A Influência do Suporte Familiar na Depressão em Adolescentes
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Escrito por Érica Vanessa Rodrigues da Silva e Juliany Christine Paiva e Silva | Publicado em Segunda, 23 Janeiro 2012 16:00
Resumo: Sendo a depressão uma doença afetiva ou de humor, na qual há alterações psíquicas e orgânicas, que comprometem o físico, os pensamentos e as emoções, considera-se dentre seus múltiplos fatores, o apoio familiar como um dos principais por ser fundamental no desenvolvimento do indivíduo. Objetivando o estudo acerca da influência exercida pela família sobre o adolescente depressivo, o presente artigo busca conceituar a depressão, ao passo que caracteriza o jovem atingido por esse transtorno. Elenca, ainda, modos de prevenção e tratamento para o mesmo, com foco no apoio familiar, que, sendo ausente, pode ocasionar consequências também retratadas no decorrer deste trabalho. Adota uma pesquisa bibliográfica exploratória com base em análise de artigos científicos, pesquisas em livros e monografias, em meio eletrônico ou não. Por fim, o suporte familiar influencia na forma como o indivíduo se vê e como interpreta as informações vindas da sociedade, sendo de fundamental importância nessa fase do desenvolvimento humano que envolve grandes mudanças. Palavras-chave: Adolescência. Depressão. Suporte. Família.
Introdução
Considerada um dos principais transtornos da atualidade, a depressão, pode ter um aumento significativo de casos até 2020, segundo dados de pesquisa da Organização Mundial de Saúde – OMS. A mesma pode ocorrer em todas as faixas etárias, sendo uma das maiores ameaças do equilíbrio do bem estar humano.
A origem da depressão está ligada a diversos fatores, como genéticos, psicológicos, ambientais e sociais, que podem afetar de diversas maneiras cada indivíduo depressivo. Devido a essa pluralidade de sua origem, e à complexidade de seus sintomas, há dificuldade de seu reconhecimento precoce, prejudicando consequentemente o desenvolvimento preventivo de seu diagnóstico.
A depressão é vista com maior frequência entre os adultos. Então, desperta-se a curiosidade de pesquisa sobre esse transtorno de humor na adolescência, por ser essa uma fase que ocorre entre a infância e a idade adulta, em que o indivíduo sofre várias transformações, tanto físicas, como psicológicas, possibilitando o surgimento de comportamentos irreverentes e desafiantes. É nesta fase onde também ocorre o desenvolvimento do autoconceito, autoestima e de conceitos mais complexos. O adolescente depressivo se percebe como alguém desinteressante e incapaz de contribuir com algo positivo ou construtivo, daí a importância do suporte familiar como influenciador no surgimento e tratamento do adolescente afligido por esse transtorno de humor.
Desta forma, esse estudo enfoca o suporte familiar como sendo um importante influenciador para o desenvolvimento de um adolescente depressivo, através de um histórico genético propício a doenças psíquicas ou de outras variáveis existentes no mesmo, que incluem a importância do apoio da família durante a recuperação do indivíduo.
Este trabalho se justifica ainda pela necessidade acadêmica de se fazer um estudo mais sistematizado sobre o assunto em foco, esperando que este possa também contribuir em nível de esclarecimento para a sociedade em geral sobre a importância da base familiar, tendo essa uma direta influencia na forma como o indivíduo se auto - avalia e como avalia as informações provindas do meio externo, assim como para o esteio emocional da criança e adolescente.
Com o objetivo final de estabelecer noções que possa nos transmitir uma melhor compreensão de como o suporte familiar pode influenciar na origem, evolução e recuperação dos transtornos depressivos no adolescente, foi realizada uma pesquisa em literaturas já existentes, voltada para uma análise conceitual.
Depressão e Adolescência
Os transtornos de humor, nos quais a depressão está inserida, constituem um grupo de condições clínicas caracterizadas pela perda do senso de controle e uma experiência subjetiva de grande sofrimento, sendo que esses acabam por comprometer a vida social, profissional e interpessoal do indivíduo. Embora a principal característica dos estados depressivos seja a proeminência dos sintomas de tristeza ou vazio, nem todos os depressivos relatam a sensação da mesma.
Del Porto (1999) caracteriza a depressão sob três aspectos:
“[...] Enquanto sintoma, a depressão pode surgir nos mais variados quadros clínicos, entre os quais: transtorno de estresse pós-traumático, demência, esquizofrenia, alcoolismo, doenças clínicas, etc. Pode ainda ocorrer como resposta a situações estressantes, ou a circunstâncias sociais e econômicas adversas. Enquanto síndrome, a depressão inclui não apenas alterações do humor (tristeza, irritabilidade, falta da capacidade de sentir prazer, apatia), mas também uma gama de outros aspectos, incluindo alterações cognitivas, psicomotoras e vegetativas. Finalmente, enquanto doença, a depressão tem sido classificada de várias formas, na dependência do período histórico, da preferência dos autores e do ponto de vista adotado. Entre os quadros mencionados na literatura atual encontram-se: transtorno depressivo maior, melancolia, distimia [...]”
O termo depressão, na linguagem corrente, tem sido empregado para designar tanta um estado afetivo normal (a tristeza), quanto um sintoma, uma síndrome e uma (ou várias) doença(s). Embora a característica mais típica dos estados depressivos seja a proeminência dos sentimentos de tristeza ou vazio, nem todos os pacientes, segundo Porto (1999), relatam a sensação subjetiva de tristeza. Muitos referem, sobretudo, a perda da capacidade de experimentar prazer nas atividades em geral e a redução de interesse pelo ambiente.
As classificações e características da depressão podem ser encontradas no DSM-IV (Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais), assim como na CID 10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde), os quais tornam mais claro o entendimento sobre esse transtorno de humor.
A adolescência é um momento de profundas transformações, tanto com o seu corpo quanto com a sociedade. A psicanálise define essa fase como sendo a relação do jovem com o luto, que é o momento em que o mesmo tem um desligamento com os seus pais, dando-se assim um extremo rompimento com a fantasia infantil.
A nossa sociedade define a inserção do adolescente no mundo adulto a partir dos seus relacionamentos com a maturidade, a independência, auto determinação, a responsabilidade e a atividade sexual efetivamente adulta. O adolescente é uma pessoa em crise, no momento em que está desestruturando e reestruturando tanto seu mundo interior como suas relações com o mundo exterior.
Quando uma doença surge na vida de um indivíduo, traz consigo alterações e transformações não só no organismo como também no modo de vida e nas relações sociais do mesmo. Se tratando de uma sintomatologia como a depressão em adolescentes, estas implicações são bastante sérias, uma vez que, não diagnosticadas satisfatoriamente no início do seu desenvolvimento, podem provocar sequelas bastante fortes, como relatam Aragão et al (2009). De fato, observou-se nas duas últimas décadas um aumento muito grande do número de casos de depressão com início na infância e na adolescência. Para conviver com essas implicações, os indivíduos constroem representações sociais que lhes auxiliam na atribuição de sentido para orientar seus comportamentos no decorrer da experiência com a doença.
A depressão entre os adolescentes está mais presente no sexo feminino. As principais causas que levam um adolescente à depressão são a falta de diálogo com os pais, casos de divórcio, dificuldades econômicas e a utilização de bebidas alcoólicas pelos pais. (Del Porto, 1999)
As formas de diagnosticar esse transtorno nos adolescentes são através do Inventário de Depressão de Beck, do Teste de Associação Livre de Palavras, e, por fim, entrevistas semiestruturadas. Os principais sintomas são a irritabilidade, instabilidade, crises de explosão, raiva e graves problemas de comportamento, sendo esses bastante sérios, e uma vez não diagnosticados no início, podem provocar sequelas graves. (Aragão et al, 2009)
Quando o adolescente está em depressão, segundo a psicanálise, ele pode estar querendo se afastar do mundo para encontrar novas escolhas para sua vida. (Lage, Monteiro, 2007)
A Relação da Família com o Adolescente Depressivo
A família, de uma forma geral, é considerada o fundamento básico e universal das sociedades, por se encontrar em todos os agrupamentos humanos, embora variem as estruturas e funcionamentos. A mesma se define como um grupo social, cujos membros estão unidos por laços de parentesco, e paralelamente sofrem influência do ambiente familiar. (Gonçalves, 2006)
A família é um grupo natural que, através do tempo, tem desenvolvido padrões de interação que, por sua vez, governam o funcionamento dos membros da mesma, delineando sua gama de comportamentos e facilitando sua interação. Porém, nem sempre a família é flexível o bastante para proporcionar esse desenvolvimento de acordo com as mudanças das situações que ocorrem.
Por suporte familiar pode-se entender a quantidade de pessoas que moram na casa e suas respectivas funções. É considerada ótima quando houver na família altos índices de carinho e permissão para autonomia e independência. Segundo Alves et al (2008), aqueles que têm a ausência do suporte social ou familiar, estariam mais predispostos a apresentarem um distúrbio psicológico/psiquiátrico quando submetidos a eventos estressantes. Sendo que os relacionamentos pobres na infância e adolescência contribuem significativamente para a aquisição de personalidades vulneráveis, as quais auxiliam na propensão para depressão e modelos insatisfatórios de relacionamento.
Os aspectos familiares devem ser considerados como fundamentais na etiologia ou manutenção da depressão em crianças e adolescentes, já que é nesta fase que se observa uma influência muito grande da família no desenvolvimento do indivíduo.
De acordo com Gonçalves (2006), p. 42:
“[...] A relação família-depressão tem-se fundamentado nos princípios da aprendizagem e sugerem que os relacionamentos familiares, para contribuírem de forma positiva para o tratamento do adolescente depressivo devem dar uma atenção especial nas condições afetivas, que são experenciadas por todos os integrantes da família. A experiência de amar e ser amado é uma das condições essenciais para o desenvolvimento sadio do homem, um sólido alicerce de amor paterno durante a infância dá ao jovem recursos incalculáveis ao ingressar na adolescência, assim, o adolescente se sente amado, não corre o risco de se sentir rejeitado pela família, facilitando uma visão satisfatória sobre o suporte familiar, proporcionando sentimentos de bem estar no adolescente, o que se torna inconsciente com a depressão.”
Assim, relacionamentos sociais construtivos com os membros da família e amigos, podem proporcionar sentimentos de bem estar no adolescente, o que é preventivo à depressão.
Conclusão
Através das reflexões feitas sobre a influência do suporte familiar no adolescente depressivo, percebe-se a necessidade de se entender mais sobre o respectivo transtorno de humor, que através dos fundamentos teóricos estudados, entendem-se os inúmeros fatores que contribuem para o seu surgimento, e quão importante é a relação da família com o indivíduo depressivo, principalmente no que tange a fase da adolescência, por ser essa constituída de transformações e grandes incertezas do próprio indivíduo que está em processo de construção da sua identidade.
É importante observar a fundamental importância que existe na relação entre a família e o adolescente depressivo, afinal, essa influencia e é influenciada pelo adolescente, tendo grande destaque neste processo.
Por fim, é importante ressaltar que a relação familiar pode vir a influenciar a origem, a evolução e recuperação do adolescente depressivo, sendo que não existe apenas um fator isolante e sim um conjunto de fatores, no qual o suporte familiar faz parte.
Fonte: A Influência do Suporte Familiar na Depressão em Adolescentes - Saúde Mental - Psicopatologia - Psicologado Artigos http://artigos.psicologado.com/psicopatologia/saude-mental/a-influencia-do-suporte-familiar-na-depressao-em-adolescentes#ixzz1lHFvOYet
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