Publicado em 18/10/2011, às 19h24
Daniela Cavalcante de Oliveira Freitas
Ao ler a reportagem “Procura-se professor", publicada no JC, não poderia de deixar de fazer um comentário sobre o assunto. Sou professora há pouco mais de 10 anos e nesse período já passei por várias experiências agradáveis e também desagradáveis.
Uma experiência agradável foi quando com apenas um elogio consegui mudar o comportamento de uma aluna em sala, principalmente quando ela disse que “quando eu disse que acreditava nela ela se sentiu valorizada e então viu que era capaz de aprender a fazer as atividades escolares” e naquele ano foi aprovada. A partir desse acontecimento, acreditava que a partir dali minha profissão iria valer à pena.
Isso aconteceu logo no início da minha carreira, confesso que quando criança a profissão me encantava, pois minha mãe é professora, porém, ao chegar a hora da escolha, não foi por opção, mas não concordo com a reportagem que diz: a maioria pertence às classes C e D. Além disso, diz que pelos resultados consolidados nas análises do exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2008, a maioria são alunos que têm dificuldades com língua, com leitura, escrita e compreensão de texto, a maioria dos sistemas de ensino públicos de ensino.
Diante de tal constatação, eu pergunto: com os médicos, juízes, promotores, desembargadores, engenheiros acontece isso? Não ? Por quê? Será que é porque essas profissões têm status? Como são os salários desses profissionais ? Quando fazem greve são tratados como o exemplo que vimos há poucos dias no Ceará? O caos na saúde e na justiça são culpa da má formação desses profissionais e de suas origens? Se é, nunca ouvi nenhum comentário. Então por que tudo de ruim que acontece na educação é culpa do professor?
Como já citei antes, sou professora, e não foi fácil me formar. Ao concluir o antigo “magistério”, cursei uma faculdade particular como bolsista e se quis ter um emprego tive que estudar e muito, pois só consegui entrar em um concurso público porque tinha pós-graduação pela UFPE. E como é que sempre a culpa é da má qualidade de ensino é do professor que é despreparado, como fazem questão de enfatizar?
Se existem bons médicos, jornalistas e promotores, não é só porque não são oriundos da classe C e d ou porque sabem interpretar texto e sim porque a carreira é promissora, tem salários dignos, são respeitados e valorizados diante da sociedade, e para tanto se esforçam bastante para conseguir. Quem não quer ser amigo de um político, de um desembargador... mas e de um professor? Ninguém fala e às vezes nem sabe quem é.
É muito fácil colocar a culpa em quem não tem valorização social, afinal, quem vai defender? Quem se importa? A solução é aumentar vinte dias letivos? Assim tudo vai melhorar?
E para nós, professores, a única solução para termos um salário digno é estudar mais ainda do que se estuda diariamente e fazer ”por exemplo” o concurso do TRE, onde o salário é R$ 4.000,00 mais vale refeição de 500,00 reais, para as vagas de nível médio. Enquanto isso o professor "despreparado" e com pós-graduação tem um piso de R$ 1188,00 mais vale refeição de R$ 52,00 reais.
Fonte: Voz do Leitor
Acesso em 26/10/11
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