AQUI E AGORA TEM

domingo, 9 de outubro de 2011

BULLYING NAS ESCOLAS: REFLEXO DE UMA SOCIEDADE EXCLUDENTE

CONGREGAÇÃO DE SANTA DOROTÉIA DO BRASIL

FACULDADE FRASSINETTI DO RECIFE

DEPARTAMENTO DE POS-GRADUAÇÃO

ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO ESPECIAL

BULLYING NAS ESCOLAS:

REFLEXO DE UMA SOCIEDADE EXCLUDENTE?

ALEXANDRE JOSÉ TOGNOCCHI DANTAS

RECIFE

2011

ALEXANDRE JOSÉ TOGNOCCHI DANTAS

BULLYING NAS ESCOLAS:

REFLEXO DE UMA SOCIEDADE EXCLUDENTE?

Monografia apresentada à Faculdade Frassinetti do Recife, Departamento de Pós-graduação, para obtenção do título de especialista em Educação Especial, sob orientação da Prof. Flávia de Andrade Lima.

RECIFE

2011

Tomara meu Deus, tomara Que tudo que nos separa Não frutifique, não valha Tomara, meu Deus

Tomara meu Deus, tomara Que tudo que nos amarra Só seja amor, malha rara Tomara, meu Deus

Tomara meu Deus, tomara E o nosso amor se declara Muito maior, e não pára em nós

Se as águas da Guanabara Escorrem na minha cara Uma nação solidária não pára em nós

Tomara meu Deus, tomara Uma nação solidária Sem preconceitos, tomara Uma nação como nós

Alceu Valença

Dedico este trabalho à memória de meu pai Sérgio José Pedrosa Dantas, e a todos aqueles que sonham com um mundo fraterno e justo.

A Iahweh e a todos aqueles que me auxiliam na árdua tarefa da vida.

RESUMO

O bullying é um fenômeno bastante antigo, mas que vem chamando cada vez mais a atenção das pessoas devido à explosão de violência que vem ocorrendo nas escolas, no Brasil e no mundo. Trata-se de um processo em que uma pessoa ou grupo agride moral ou fisicamente outra, considerada mais fraca, por motivos variados: por ser de outra cor, de outra religião, gorda, magra, etc. As pessoas com deficiência também são vítimas indefesas. Mas o que está por trás do bullying? O que o causa? Vivemos em uma sociedade capitalista, excludente, que estimula a competição desde muito cedo e aplica a lei de Darwin inclusive com as pessoas, afirmando que o mundo não é para todos. Há uma valorização exagerada de uma estética baseada na perfeição, e aqueles que não se encaixam no modelo sofrem e são rejeitados pelos outros. De que forma os valores distorcidos dessa sociedade estão contribuindo para agravar esse quadro de discriminação e preconceito? É o que buscamos investigar neste trabalho.

Palavras-chave: Bulllying; capitalismo; estética; tolerância.

ABSTRACT

Bullying is a very old phenomenon, but increasingly has been drawing people's attention due to the explosion of violence that has occurred in schools in Brazil and worldwide. It is a process in which a person or group attacks another moral or physical, deemed to be weaker, for many reasons: for being of another color, a different religion, fat, thin, etc. People with disabilities are also helpless victims. But what is behind the bullying? What causes it? We live in a capitalist society, exclusionary, which stimulates competition early on and apply the law of Darwin including people, saying the world is not for everyone. There is an exaggerated appreciation of an aesthetic based on perfection, and those who do not fit the model are suffering and rejected by others. How distorted the values of this society are contributing to aggravate this situation of discrimination and prejudice? This is what we seek to investigate in this work.

Keywords: Bulllying; capitalism; aesthetics; tolerance.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 07

1 A DESUMANIZAÇÃO DO SER HUMANO: UMA REALIDADE ESTIMULADA NO MEIO SÓCIO-POLÍTICO-ECONÔMICO............................................................................................. 09

2 OPORTUNIDADE: CAPITALISMO TIRA, HUMANISMO DÁ............................ 18

3 A ESTÉTICA DA PERVERSIDADE: REFLEXO DA SOCIEDADE INDIVIDUALISTA E DIVIDIDA ............................................................................................................................... 25

CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................... 36

REFERÊNCIAS.............................................................................................................. 38

ANEXOS---------------------------------------------------------------------------------------------40

INTRODUÇÃO

A violência no ambiente escolar vem aumentando em todo o mundo, principalmente no Brasil. Inúmeros jornais e revistas relatam casos de violência envolvendo discentes e/ou docentes, num fenômeno permanente que tem trazido danos irreparáveis para muitas pessoas, inclusive a morte física. É de suma importância conhecê-lo a fim de preveni-lo e combatê-lo. Esse fenômeno é conhecido por “bullying” e será nosso objeto de pesquisa. O bullying é um problema nada novo, uma vez que é descrito desde a Antiguidade, como nós veremos em um capítulo a seguir, mostrando que vinha ocorrendo, mas não era de muita preocupação para a ciência. No final do século XX, aumentaram os casos de agressão com morte, ou problemas emocionais graves. As pessoas com deficiência estão sujeitas a essa rejeição violenta, de alguns ou de uma determinada sociedade, já que elas têm sua diferença exposta, seja no físico ou no modo de ser e falar, que chama a atenção dos ditos “normais”, que zombam, colocam apelidos, enganam e agridem de diversas formas. A eugenia, isto é, a idéia de querer criar seres humanos “perfeitos” e “saudáveis” fez com que os deficientes, os velhos, os homossexuais, algumas etnias e as ideologias distintas do modelo perfeito sofressem tanta rejeição e violência. A escravidão, o nazismo, as ditaduras e outras práticas que se refletem nas escolas são manifestações de uma sociedade excludente, e o capitalismo de modo geral favorece essas mazelas do Estado desumano. Nas instituições de ensino, por sua vez, o lucro está em primeiro lugar e as pessoas se transformam em mercadorias. Na realidade capitalista, uns ganham, outros perdem.

Não resta dúvida da importância deste estudo para a sociedade e para uma educação inclusiva, uma vez que, conhecendo o problema, teremos condições de tomar medidas que possam evitá-lo e/ou combatê-lo, tantos as agressões provenientes da escola como também de outros meios, como a família, o trabalho e até mesmo o Estado. E para uma educação inclusiva é de vital interesse, já que ser diferente é motivo de discriminação, preconceitos, racismos. Por esta razão escolhemos este assunto, para contribuir com uma educação para todos e de qualidade.

Neste contexto, o objetivo geral desta pesquisa é analisar e compreender o fenômeno do bullying, a fim de identificar as causas que levam ao preconceito, à violência e à covardia entre pessoas, especialmente no ambiente escolar, focalizando o aluno com deficiência.

Trata-se de uma pesquisa de análise teórica sobre os trabalhos de Ana Beatriz Barbosa Silva, Josevaldo Araújo de Melo, que trazem informações conceituais para a identificação do bullying. Além de Luiz Fernandes de Oliveira, Ricardo Cesar Rocha da Costa, Marilena Chaui, Rubem George Oliven, Viviane Forrester, Noann Chonks, Carlos Eduardo Novaes e Vilmar Rodrigues, nos aspectos sociológicos e da filosofia sobre o sistema capitalista e o caráter filosófico da violência, questões de relacionamento do homem com o outro, a teoria do bom selvagem. Além desses, as obras de Carl Gustav Jung, para mergulharmos no lado da sombra do ser humano; a obra de H. W. Koch, que mostra como a teoria de Darwin foi usada na educação nazista, a idéia de eugenia, que, em nosso ver, muitas vezes defendemos quando a relacionamos ao outro, inclusive no mundo dos negócios. Serão empregados os seguintes procedimentos: pesquisas bibliográficas e observações de fatos e fenômenos nas escolas e no ambiente em que se situam. A abordagem será qualitativa e tentará responder às questões: por que ocorre o bullying? Será reflexo de uma sociedade excludente? O que é esse fenômeno que causa tanto estrago na vida humana, tornando a prática da inclusão um sonho, uma utopia?

Para tal, este trabalho monográfico foi dividido em três capítulos, a saber: 1) A desumanização do ser humano: uma realidade estimulada no meio sócio-político econômico, onde refletimos sobre a natureza humana, buscando demonstrar que a teoria de Darwin contribui para uma sociedade perversa, que se reflete no sistema econômico e por sua vez na própria escola; 2) Oportunidade: capitalismo tira, humanismo dá, onde analisamos a violência, a luta de classes e o bullying; e por fim, 3) A estética da perversidade: reflexo da sociedade individualista e dividida, onde focalizou-se a cidadania das pessoas diferentes, refletindo as dificuldades inerentes ao estigma.

1 A DESUMANIZAÇÃO DO SER HUMANO: UMA REALIDADE ESTIMULADA NO MEIO SÓCIO-POLÍTICO ECONÔMICO

Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir

A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir

Por me deixar respirar, por me deixar existir,

Deus lhe pague

Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir

Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir

Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair, Deus lhe pague

Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir

E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir

E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir,

Deus lhe pague

(Construção, Chico Buarque)

A desumanização seria um reflexo da sociedade capitalista, aplicando, talvez de maneira inconsciente, a lei de Darwin? São indagações que devem ser consideradas, pois as pessoas com deficiência ou outros tipos de diferença que não estão nos padrões aceitos por um determinado grupo são motivo de preconceito, coação, ódio. Que pode levar à morte no sentido amplo da palavra, matando também psicologicamente. Algumas dessas práticas, como difamação, recusa ou impedimento da socialização, levar ao ridículo a vítima em relação a sua “diferença” revelam muito bem esse tipo de exclusão. O que é diferente deve viver nos “guetos”, longe dos normais, longe do padrão da sociedade “igualdade para os iguais”. É triste, mas ainda vemos essas posturas se manifestarem também em relação á pobreza, pessoas com deficiência, etnias diferentes, entre outras que não agradam ao sistema. Exemplos não faltam, casos que marcaram muito no século passado, o nazismo, racismo, agora os neonazistas, serial killers e inúmeros casos de violência envolvendo vários ambientes sociais, e um deles é o escolar.

Um ou mais alunos falam mal, agridem fisicamente ou isolam um colega, além de colocar apelidos grosseiros. Esse tipo de perseguição intencional definitivamente não pode ser encarado só como brincadeira natural da faixa etária ou como algo banal, a ser ignorado pelo professor. É muito mais sério do que parece. Trata-se de bullying. A situação se torna ainda mais grave quando o alvo é uma criança ou um jovem com algum tipo de deficiência – que nem sempre têm habilidade física ou emocional para lidar com as agressões (SOLIGO, 2009, [s/p.]).

Continua a reportagem com os índices recentes sobre o tema:

Realizada com 18 mil estudantes, professores, funcionários e pais, em 501 escolas em todo o Brasil, a Fundação Instituto de Pesquisas econômicas (FIPE) constatou que 96,5% dos entrevistados admitem o preconceito contra pessoas com deficiência. ‘Colocar em prática ações pedagógicas inclusivas para reverter essa estatística e minar comportamentos violentos e intolerantes é responsabilidade de toda a escola’. (SOLIGO, 2009, [s/p.]).

Uma vez que as relações são exercidas entre duas polaridades opostas de poder sobre alguém ou um grupo mais “fraco”, o cientista sueco Dan Olweus, um dos pioneiros no estudo desse fenômeno, define bullying em três termos essenciais:

O comportamento é agressivo e negativo;

O comportamento é executado repetidamente;

O comportamento ocorre num relacionamento onde há um desequilíbrio de poder entre envolvidos (BULLYING, 2011).

Os atos de bullying configuram atos ilícitos, não porque não estão autorizados pelo nosso ordenamento jurídico, mas por desrespeitarem outras normas legais, por exemplo, a dignidade da pessoa humana. Infelizmente, não existe ainda uma lei específica para esse abuso na esfera federal. O nosso código penal, por exemplo, ainda não tipificou o bullying como crime; portanto, só a conseqüência dessa coação poderá ser dita como crime, por exemplo: ato contra a vida, lesão corporal, calúnia, injúria, e outros. Mas o bullying em si não é crime.

Existe um reforço em alguns estados e municípios, porém seus efeitos são bastante limitados, uma vez que são de esferas inferiores à Federal. Os bullies – aqueles que praticam o bullying – usam principalmente uma combinação de humilhação e intimidação para atormentar os outros. Entendemos que o maior meio de combater e prevenir essa violência é com educação. E para educar é necessário que compreendamos esse fenômeno, que está vinculado à falta de respeito com o outro, com o diferente; neste caso, nosso objeto de estudo é de suma importância para então realizar uma educação para todos.

Então, qual seria a verdadeira natureza humana? Somos simplesmente animais e, portanto, devemos nos guiar pelas leis naturais, sem nenhum limite? Onde o poder e a força importam nessa convivência com o outro? É nessa indagação que vamos mergulhar, sobre a verdadeira natureza do ser humano, desde os aspectos religiosos, filosóficos e científicos, para tentar compreender sua complexidade, pois entendemos que o ser humano não é tão simples, apesar de também ter uma natureza animal.

A desumanidade do ser humano em relação ao outro tem sido objeto de interesse de inúmeros estudiosos, uma vez que a história humana é repleta de guerras, crimes, torturas e de crueldade no mais alto grau. Desde crianças, nosso lado agressivo se manifesta frequentemente de muitas formas, como a competição, crítica, discriminação, discussão. Não seremos dominados por um instinto agressivo inato? Thomas Hobbes já dizia que a luta de todos contra todos era necessária para impedir essa tendência à criação do Estado (Leviatã). O Estado é criação necessária para que os homens possam viver em cooperação, solidários. Será?

Então, como explicar a violência de Estado? Os Estados absolutistas? O Estado Nazista? É verdade, podemos ser perversos, e sendo perversos podemos criar um órgão também mau, que se reflete nas ideologias dominantes, nas nossas produções culturais como músicas, filmes e outros gêneros, o Estado pode ser instrumento para favorecer o bem de todos ou um reflexo de nossa crueldade, como qualquer outra instituição humana.

O contrário é a tese defendida por Rousseau; para ele a verdadeira natureza humana é pacífica e boa, e a civilização o corrompe e transforma em agressivos. Mas como explicar a corrupção da civilização?

Se nascemos bondosos, não poderia haver nada de mau na civilização, pois a solidariedade e o altruísmo seriam uma constante na vida social. Então, como podemos explicar a verdadeira natureza humana?

Se Hobbes e Rousseau caem em extremismos, pensamos que a interessante novela de R. L. Stevenson, “O Estranho caso do Dr. Jekyll e Mr. Hyde”, como também a obra de Joaquim Manuel de Macedo “A Luneta Mágica”, revelam que vivemos num mundo dual, isto é, para tudo neste mundo existe a luz e a sombra, falando em linguagem junguiana.

A luz é a parte das virtudes, da bondade, da nobreza do ser mais alto. Já a sombra é tudo que é mais vil, representando a maldade. Nessas obras, é revelada a dualidade do ser. Na primeira, o pacato Dr. Jekyll precisa tomar um misterioso líquido para ser domado pela sua sombra, se transformando, no físico e no psicológico, numa outra pessoa, de aparência de “fera”.

Neste aspecto, é interessante notar a aparência física alterada, pois vários estudiosos achavam que a maldade estivesse vinculada a fatores genéticos, se manifestando nos traços humanos. Cientistas como Lombroso, Giavananni e Batista Della Porta acreditavam que as ações do ser humano estavam vinculadas à constituição física, já sendo possível definir quem está sujeito ao crime. Através da soma das características (diâmetros de cabeça, nariz, etc.) é definido o grau de risco da pessoa.

Pode parecer absurdo, mas muitos aceitaram que o ser humano era reflexo desses fatores, portanto a pessoa com deficiência ou de “aspectos raciais” era vista como um possível criminoso e, portanto, deveria ficar longe dos demais. Afastar esses homens “delinquentes” devia ser preocupação do Estado.

Não faz muito tempo que, junto com a eugenia, o Estado nazista implantou a política da “higienização da raça”; a doutrina nazista a aplicou contra várias etnias, porém, quem eram de fato os monstros?

O perigo dessa identificação antecipada é tratado no filme Minority Report, de Steven Spielberg. A história se passa no ano de 2054, na qual uma unidade de elite da polícia, chamada pré-crime, pretende identificar os criminosos antes que eles cometam os crimes, encarcerando os indivíduos portadores da violência. O sistema é perfeito - os pré-cogs nunca erram! Porém, um dia o sistema errou e o principal personagem terá de lutar contra tudo e todos para provar que a máquina estava errada, se conseguir sobreviver para isso. Parece o sistema sonhado por Hitler ou o ambiente de 1984, do livro de George Orwell?

Já na obra de Macedo, Simplício, com a posse de uma lente mágica muito poderosa, quando olha para uma pessoa ou objeto por mais de três minutos, tem a visão do bem, vendo só a bondade das pessoas, e acaba sendo enganado por elas. Levado ao desespero pela imagem falsa da realidade, procura de novo o Mago, e desta vez a lente só mostra o mal. Nova desilusão. Vendo apenas o aspecto mau das pessoas e coisas, Simplício acaba ficando solitário no mundo, com medo e amargurado. Mas há esperança quando recebe outra lente, que mostra os dois aspectos. É interessante nessas obras o estudo da natureza dual do ser. Referimo-nos a todas as coisas neste plano de tempo-espaço. Carl Jung já falava dessa personalidade oculta recalcada, frequentemente interior e carregada de culpas:

A sombra constitui um problema de ordem moral que desafia a personalidade do eu como um todo, pois ninguém é capaz de tomar consciência dessa realidade sem dispender energias morais. Mas nesta tomada de consciência da sombra trata-se de reconhecer os aspectos obscuros da personalidade, tais como existem na realidade (JUNG, 1978, p. 06).

Como arquétipo, a sombra origina-se no inconsciente coletivo e pode permitir acesso individual a grande parte de valioso material inconsciente que é rejeitado pelo ego e pela persona. No momento em que a compreendemos, a sombra aparecerá de outra forma. Saber lidar com a sombra é um processo de toda a vida, consistindo refletir e olhar para dentro de nós de maneira honesta, encarando o nosso modo de ser reconhecendo os nossos defeitos e falhas para assim evoluir como pessoas humanas. É como se fosse um processo alquímico, do chumbo ao verdadeiro ouro.

Já Pierre Weil, no livro “A Esfinge-estrutura e símbolo do homem” nos traz outra interpretação da estrutura do ser humano:

É uma esfinge, isto é, um ser composto de três animais simbólicos, três forças da natureza, das quais ele precisa ter consciência e aprender a dominar. Dominar significa sublimar a energia, conseguindo neutralizar as forças positivas e negativas, as da moral e do instinto que estão em nós, a águia em cima, e o boi ou o leão (conforme a esfinge), que está ou estão embaixo de nós. Trata-se, em termos dialéticos, de iluminar as nossas contradições internas, para chegar, cada vez mais, à maior unidade do nosso ser (WEIL, 1978, p.108, grifo nosso).

Weil revela a estrutura simbólica do homem através da esfinge em que os animais representam a mente, a emoção e o instinto, seriam os três inconscientes do homem, existiria uma função de conhecimento e de controle evolutiva, pois esta consciência e este domínio constituem um caminho para chegar à iluminação. No Egito, o tríplice cetro era composto de três chicotes, um bastão e uma vara, ou seja, respectivamente, o domínio sobre o corpo (boi); o controle sobre os sentimentos (leão) e o domínio sobre o pensamento (águia); e por fim o trono símbolo do domínio da natureza animal no homem.

É interessante que a esfinge sempre esteve associada desafio, enigmas, mistérios ao longo da história humana, como em Édipo: “decifra-me ou te devoro”. A velha máxima do Oráculo de Delfos, ”conhece-te a ti mesmo”, mostra que não resta dúvida sobre a importância de mergulharmos na essência humana e trabalharmos com nossos demônios (sombra), para que não sejamos possuídos por nossas feras. Por isso é importante a educação. Mas que educação?

Então uma educação tem que trabalhar sobre um aspecto abrangente? Sim, com certeza, envolvendo não só o aspecto cognitivo, mas emocional, sexual, religioso, numa visão holística do ser humano, conforme fala Jung: “Tornar o homem cada vez mais consciente é contribuir progressivamente para o seu ‘vir a ser’” (1978, p. 180).

A Bíblia revela essa natureza dúbia do ser humano numa linguagem simbólica: a perda do centro, devido ao conhecimento do bem e do mal que ele conseguiu através de um ato de desobediência, sem consentimento e sem mérito; isso o levou a viver perturbado, desajustado com o outro e consigo mesmo em uma luta constante de sentimentos. Pois não houve um amadurecimento do homem inicial uma vez que queria saber logo sobre o que representa ter conhecimento e não tê-lo. Passou a ser engolido pelo próprio erro, perdeu o centro de si mesmo. Vejamos um trecho:

A serpente era o mais astuto de todos os animais dos campos que Iahweh Deus tinha feito. Ela disse à mulher: ‘Então Deus disse: Vós não podeis comer de toda a árvore do jardim?

A mulher respondeu à serpente: ’Nós podemos comer do fruto das árvores do jardim. Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus disse: Não comereis, nele, não tocareis, sob pena de morte. ’A serpente disse então à mulher:’Não, não morrereis!”Mas Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão e vós sereis como deuses, versados no bem e no mal.” (BÍBLIA, 1981, p. 35).

Com isso, a humanidade perdeu seu Centro, que estava no Criador. É interessante notar que a árvore está no centro do jardim. Ou seja, o homem perdeu o centro quando comeu o fruto da polaridade, passando de sábio para ignorante; veio então o medo e a angústia. Porém, o bem não abandonou o homem, que carrega essa dualidade em conflito. Propôs-lhes outra parábola, dizendo:

O reino dos céus é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo. Enquanto, todos dormiam, veio o seu inimigo e semeou joio no meio do trigo e foi-se embora. Quando o trigo cresceu e começou a granar, apareceu também o joio.Os servos do proprietário foram procurá-lo e lhe disseram: ‘Senhor, não semeaste boa semente no teu campo?Como então está cheio de joio?

Ao que este respondeu: ’Um inimigo é quem fez isto. ’Os servos perguntaram-lhe: ‘Queres,então, que vamos arrancá-lo?’ Ele respondeu: ’ Não, para não acontecer que, ao arrancar o joio, com ele arranqueis também o trigo. Deixai-os crescer juntos até a colheita. No tempo da colheita, direi aos ceifeiros: Arrancai primeiro o joio, e atai-o em feixes para ser queimado; em seguida,recolhei o trigo no meu celeiro.” (BÍBLIA, 1981, p. 1300 ).

Com esta parábola, Jesus explicou que o semeador da semente boa é o filho do Homem. E o campo se refere ao mundo. A semente boa são os súditos do reino. O joio, os seguidores do maligno. O inimigo que os semeou, o diabo. A colheita, o fim do mundo...

Será o nosso inconsciente, nos aspectos de trigo e joio? Impressionante a centralização de novo mencionada. Ou seja, o homem precisa encontrar de novo o seu centro, o referencial do “homem perfeito” que é Jesus, que dominou todos os animais da esfinge, resguardando toda a essência humana, a nova arvore que nos purifica e liberta do nosso joio. Esse encontro consigo mesmo, o despertar, para Jesus se consegue através da relação com o ambiente, com o próximo (em sentido amplo), e pode ser muito bem expresso na parábola do filho perdido e regenerado em São Lucas 15:11-32, que finda dizendo: “o irmão estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi encontrado”. (BÍBLIA,1981,P.1365).

Então percebemos que o ser humano precisa de fatores que contribuam para o desenvolvimento cognitivo, emocional, que pode ser conduzido para o aperfeiçoamento espiritual, ético, ou, caso contrário, em seu desvirtuamento, levando á criação de feras, fanáticos, intolerantes. Portanto, um meio social e econômico que estimule a competição não favorece o desenvolvimento de uma sociedade harmoniosa, solidária e moral, principalmente quando ela colocar o lucro acima dos seres humanos. Não sabendo lidar com a diversidade e com as dificuldades do meio ambiente em que vive, o sistema tenta nos empurrar para que sejamos cada vez mais individualistas, competidores e fanáticos, consumistas ou mercadorias, e servis a esta “ordem” ou sistema. É preciso questionar o sistema que priva o nosso direito a uma vida digna, ao trabalho para todos, ao sistema de saúde de qualidade, à educação, desencadeando essa desarmonia e concepção de mundo individualista em todo o grupo social e no individuo. O mais forte sobrevive, quem tem competência se estabelece. E na escola, será como na porta do Ateneu, de Raul Pompéia, ainda hoje? “Vais encontrar o mundo. Coragem para a luta!” O livro termina com o incêndio, ao que se diz “propositadamente lançado pelo Américo”, um aluno revoltado, que fora colocado à força pelo pai no internato.

O massacre que aconteceu no Rio de Janeiro, no dia 07 de abril de 2011, faz refletir e questionar sobre a complexidade de todo um sistema que cria vários Ateneus, em várias esferas, inclusive inculcando idéias fanáticas com o aval da sociedade consumista e da mídia, que não tem limites, desde que haja retorno financeiro. A escola faz parte dessa sociedade e, portanto, sofre todos estes efeitos, pois o particular ressoa no todo. E o todo á composto pelas partes. A sociedade sofre os efeitos dos que continuam e geram feras.

Certa vez, foi perguntado ao índio mais velho da tribo:

- Quem é o responsável pelos instintos bons e maus que nos invadem a alma?

O índio respondeu que são conflitos internos que existem em cada um de nós e lhe falou:

- Dentro de nós existem dois lobos, um deles é cruel e mau, o outro é pacífico e muito bom. Os dois estão sempre brigando.

Então lhe foi perguntado:

- Qual dos lobos ganha essa briga?

O índio respondeu:

- Aquele que você alimentar. (DESCONHECIDO)

Há uma outra versão para esse mesmo conto dos índios Cherokee, dos Estados Unidos também bastante interessante, e que fala dessa mesma natureza dual:

Há uma luta em curso dentro da mente e do coração de todo o ser humano que hoje está vivo (dizia o velho índio ao seu neto). é como se houvesse dois lobos dentro de mim; um é branco outro é negro. O branco é bom, generoso e não faz mal. Vive em harmonia com tudo o que o rodeia e não se ofende quando não há intenção de ofender. O lobo bom, estabilizado e forte na compreensão de quem é e do que é capaz só luta quando é acertado fazê-lo e quando tem de o fazer para se proteger a si e à sua família e, mesmo assim, fá-lo de maneira correta. Cuida de todos os outros lobos da sua alcatéia e nunca se desvia da sua natureza. Mas também há o lobo negro que vive dentro de mim, e este lobo é muito diferente. È ruidoso, colérico, descontente, invejoso e tem medo. A mínima coisa provoca-lhe um acesso de raiva. Luta com toda a gente, o tempo todo, por razão nenhuma. Não consegue pensar claramente porque a sua ganância por mais e a sua raiva e ódio são imensos. Mas é uma raiva impotente, pois a sua raiva não muda nada. Arranja sarilhos onde quer que vá, por isso encontra-os facilmente. Não confia em ninguém por isso não tem amigos verdadeiros. Por vezes é difícil viver com estes dois lobos dentro de mim, pois ambos lutam arduamente para dominar o meu espírito. - Qual dos dois lobos ganha?- Ganham ambos, filho. - Se eu optar por alimentar apenas o lobo branco, o lobo preto estará à espera em todas as esquinas à espera de ver se estou em desequilíbrio ou demasiado ocupado para prestar atenção a uma das minhas responsabilidades e atacará o lobo branco. Estará sempre zangado e a lutar para obter a atenção que anseia. Mas se eu der alguma atenção ao lobo Negro porque compreendo a sua natureza, se o reconhecer como força poderosa que é e lhe fizer sentir que o respeito pela sua personalidade e o utilizar para me ajudar, se nós enquanto tribo, alguma vez nos encontrar-mos numa situação difícil, ele ficará feliz, o lobo branco ficará feliz também e ganham ambos, todos ganhamos. - Mas como podem ganhar ambos os lobos avô?- Sabes filho, o lobo negro tem qualidades importantes de que posso precisar, dependendo do que me surge no caminho. É feroz, determinado e não cede em nenhum momento. È inteligente, esperto e capaz dos pensamentos e estratégias mais tortuosos, quem são importantes em tempo de guerra. Tem muitos sentidos apurados e intensificados que só alguém que veja através dos olhos das trevas consegue apreciar. No meio de um ataque pode ser o nosso maior aliado. Se eu alimentar ambos os lobos deixaram de lutar pela minha atenção e posso utilizar cada um deles conforme necessário, não havendo guerra entre eles consigo ouvir a voz do meu conhecimento mais profundo e escolher qual deles me pode ajudar melhor em cada situação. Se compreenderes que há dentro de ti duas grandes forças principais e lhes manifestares o mesmo respeito, ambas ganharão e haverá paz. Um homem que tem paz no seu intimo tem tudo. Um homem despedaçado pela guerra no seu intimo não tem nada. Deverás agir com as forças antagônicas que estão dentro de ti e o que decidires ira determinar a qualidade de vida que terás. E quando um dos lobos precisar da tua atenção especial e que acontecerá por vezes, não tenhas vergonha, admite perante os mais velhos, partilha dos teus receios e eles perante isso ajudar-te-ão a sua sabedoria. (DESCONHECIDO)

Por tudo que foi exposto, vemos que a educação está vinculada ao coletivo, e esse coletivo é formado por indivíduos que por sua vez expressam seus sentimentos e desejos de viver em um mundo que seja ideal, mas ideal para quem? Cabe a cada um fazer a escolha certa. Mas o que é certo? Isso depende do nosso amadurecimento, e da disposição de domar as nossas feras. No próximo capítulo, falaremos mais sobre como o meio pode alterar e afetar as pessoas, pois nenhum homem é uma ilha, como dizia o poeta.

2 OPORTUNIDADE: CAPITALISMO TIRA, HUMANISMO DÁ

De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.

Rui Barbosa

Questionar o capitalismo chega a ser para alguns heresia, pelo fato de acharem a forma perfeita e sagrada da relação do homem com as riquezas. Vamos analisar e refletir em que esse sistema tem contribuído a cada dia para a desumanização do ser humano e isso está produzindo cada vez mais nas famílias, como também nas escolas.

Nós vivemos num sistema do medo, da angustia, constantemente nos sentindo inseguros e vendo as outras pessoas com estranheza, ódio, inveja, indiferença. Isso não é só nos países explorados pelos mais desenvolvidos, pois nos países ricos também há esse fenômeno de desumanização do ser humano, além da xenofobia. Essa violência continuada desse modelo, reproduzido nas diversas manifestações da violência, é um dos fatores que provoca o bullying.

O Bullying é um termo de origem inglesa; são atos praticados por um indivíduo (bully, ou valentão) ou grupo de indivíduos com o objetivo de intimidar ou agredir outro indivíduo (ou grupo de indivíduos) incapaz (es) de ser defender. De acordo com Silva (2010) e Melo (2010), corresponde a um comportamento de caráter intencional e repetitivo. Para Soligo, “o bullying só ocorre entre os ‘iguais’, ou seja, pessoas de mesma idade, mesmos status em um grupo, de forma repetitiva as agressões, rompendo igualdade do grupo, devido acharem melhores do que os demais”.

Compartilhamos do entendimento de Silva e Melo, pois melhor explica sobre essa violência continuada e intencional que pode acontecer não necessariamente entre os “iguais”, mas de posições hierárquicas distintas, por exemplo, no trabalho, no qual recebe o nome de assédio moral ou bullying no ambiente de trabalho. Esse fenômeno de violência aparece em outros países como Estados Unidos e Inglaterra. Inúmeros filmes tratam do tema. Recentemente, tivemos “Preciosa: uma história de esperança”, de Lee Danels; “Meu nome é rádio”, de Michael Tollin, e mesmo filmes infantis, como “O mar não está pra peixe”, “O Segredo dos Animais”, entre outros. Retratam a opressão, a coação com o exemplo individual ou de grupos com outras pessoas que têm seu modo de ser, suas crenças, tipo físico fora do modelo da sociedade ou desses grupos, deve, portanto, para esses bullies, serem excluídas pelo fato de serem diferentes.

Tudo isso mostra um jogo de força de duas classes: a que tem o poder, os conhecidos como vencedores, e a que é vítima desse poder, os oprimidos ou fracassados. É impressionante como nossa história foi bem sintetizada por Marx e Engels no Manifesto do partido Comunista:

A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história da luta de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, mestre de corporação e oficial, numa palavra, opressores e oprimidos, em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada, uma guerra que terminou sempre ou por uma transformação revolucionária da sociedade inteira, ou pela destruição de suas classes em luta (MARX, ENGELS, 1999, p.66).

De fato, a história da humanidade está repleta de lutas em decorrência de querer dominar o outro, de impor a sua vontade aos mais fracos, favorecendo a concentração da propriedade privada dos meios de produção nas mãos de uma minoria, tentando justificar e favorecer através de ideologias e normas jurídicas a desumanização, a exploração e a injustiça perante a maioria da população; como dizia o jurisconsulto Paulo, “non omne quod licet, honestum est”: “nem tudo que é lícito é honesto” (NADER, 1995, p. 44).

É importante ressaltar que a idéia de um mundo fraterno, justo, na concepção bíblica serviu muito para que as classes sofredoras buscassem questionar as estruturas dominadoras, conforme Chauí (1995, p.405): “As classes populares não possuíam teorias políticas de tipos filosóficos e científicos. Para explicar o mundo em que viviam e o mundo que desejavam dispunham de uma única fonte: a Bíblia. Através da religião, possuíam duas referências de justiça e felicidade”.

É nesse imaginário messiânico que ainda sonhamos. Em tempo de hoje as pessoas com deficiência ainda não têm seus direitos respeitados, garantindo uma vida digna, com qualidade? Esse modelo social se reflete em nossas escolas, pois nas escolas vemos a competição e a separação de grupos, ou melhor, de “turminhas”, que expõem suas vantagens material, emocional e psicológica, impondo suas vontades, ônus e obrigações a outros em desvantagem, forçados a se relacionar sobre esse domínio dos “opressores”. Essas divisões aparecem tanto de forma explícita, como nas roupas, equipamentos e jóias, numa afirmação da classe a que pertence, como de forma implícita.

Essa relação de consumismo gera também discriminações com deficiências físicas e cognitivas, pois a própria sociedade exclui, seja no campo de trabalho, nos transportes, hospitais etc. E por que na escola seria diferente? Sim, vivemos no modelo da eficiência, da informação e da competitividade. Uma sociedade altamente técnica e científica; todavia, cada vez mais transformamo-nos em máquinas.

É nesse contexto que entra, muitas vezes, a cumplicidade do Estado, fazendo leis fora da realidade:

O problema do bullying já é endêmico nas escolas de diversos países. Michael Moore, baseado no caso que aconteceu nos Estados Unidos em 1999, no Colégio Columbine High School, em Denver, Colorado, em que dois estudantes assassinaram 12 colegas e um professor e em seguida se mataram, elaborou um documentário. O motivo para o ataque seria vingança pela exclusão escolar que os dois teriam sofrido durante muito tempo. O documentário de Moore questiona o culto da violência e o fácil acesso às armas nos Estados Unidos.

Essa violência decorrente dos valentões está manifesta em toda a sociedade, seja no contexto familiar, profissional e na escola. Por que isso ocorre? Será nossa postura de querer manter as pessoas no nosso controle, como faziam na época da escravidão? Subjugando os interesses de uns para atender outros? Até os ideais difundidos e estimulados pela sociedade incentivam a competição, o consumismo, se refletindo nas escolas e famílias, criando as diferenças da desunião, uma vez que possibilita a agressão e práticas hostis com o outro que não é do grupo. Conforme Silva (2010), os tempos são difíceis em que a violência e a agressividade infanto-juvenis são crescentes e ameaçam a todos nós. Como então, falar de inclusão, pois muitos nunca foram incluídos? Que são os casos dos que têm negado desde cedo seus direitos de cidadão, como as pessoas com deficiência? E os que vivem na miséria?

Vivemos num mundo em um sistema que nos submete a pensar que devemos a cada dia odiar e ver os outros como ameaça: ameaça no emprego, que está cada vez mais difícil, restrito e exigente em qualidade, e praticando ações altamente individualistas, sem lugar para a solidariedade e o afeto. Não é à toa que vemos a violência aumentando no seio familiar e nas escolas. Imaginemos peixes em um aquário no qual falta comida. Peixes mais fortes começariam a devorar os mais fracos, desaparecendo a amizade, como no velho ditado: “em casa que falta pão todos têm razão”. É esse sistema que nós estamos ingerindo; um sistema em que a livre iniciativa, a competição para conseguir “vencer na vida” tem como prêmio o sucesso e o dinheiro. É o “Big Brother”, que ainda não tem o controle total do ser humano: podemos modificar esse sistema, essa cultura. Por isso, entender ontologicamente a violência, que está incorporada à nossa sociedade, banalizada.

Um exemplo disso são crianças, jovens e velhos vivendo sob condições desumanas ou sendo abusados de diversas formas. É verdade que vez ou outra é lançada uma campanha contra pedofilia, escravidão, a favor das crianças. Porém tudo isso é somente um “faz-de-conta”; haja vista que, quando se tenta implantar uma política como o “Fome Zero”, a mídia e alguns setores falem logo de “bolsa-esmola”, e comecem a querer tirar a credibilidade do programa social, de amplitude e durabilidade que têm o propósito definido de acabar com a fome ou outra violência social. São decisões políticas, com as quais os grupos econômicos e as classes média e alta devem se sensibilizar. Podemos ser mais solidários, pois, como disse Jesus, “a quem muito é dado muito será cobrado”.

A sociedade está passando por uma mudança técnica, de desenvolvimento científico, mas a distribuição das riquezas, a exploração do ser humano vem aumentando, como Forrester (1997) relata no horror econômico: um sistema cada vez mais eliminando o trabalho, mas buscando especialistas e descartando os “obsoletos”:

Trata-se de um mundo que, por causa da cibernética, das tecnologias de ponta, vive a velocidade do imediato; um mundo em que a velocidade se confunde com o imediato em espaço sem interstícios. A ubiqüidade, a simultaneidade, aí é a lei. Os que lá se movem não partilham conosco nem esse espaço, nem a velocidade, nem o tempo. Nem os projetos, nem a língua, menos ainda o pensamento. Nem as cifras, nem os números. Nem, sobretudo, a preocupação. Nem, por sinal, a moeda (FORRESTER, 1997, p.26).

Viver, nesse mundo, é um privilégio de poucos. As pessoas estão ficando doentes e anti-sociais, uma vez que o ambiente favorece a disputa pela sobrevivência e o estranhamento do ser humano. Marx estava com razão quando disse que o capitalismo leva à bestialização do ser humano, o que estamos vendo os segmentos sociais, se refletindo nos valores morais e colocação de limites. Muitos não dizem, mas aplicam o princípio de que “os fins justificam os meios”, onde o ter é mais importante. Uma mostra concreta disso são os programas chamados “reality shows”, em que pessoas se submetem desde o ridículo de vestir fantasias ou fazer provas até comer pratos repugnantes para conseguir dinheiro; onde não existe amizade, pois a vida é um jogo e vencer é a meta.

Esses exemplos vão entrando no inconsciente das pessoas e se se refletindo no nosso modo de se relacionar com o outro. É a animalização do ser humano, o triunfo da lei de Darwin, onde o afeto é transformado e direcionado ao mercado, aos interesses dos privilegiados:

Nas primeiras épocas históricas verificamos, quase por toda parte, uma completa divisão da sociedade em classes distintas, uma escala graduada de condições sociais. Na Roma antiga encontramos patrícios, cavaleiros, plebeus, escravos; na Idade Média, senhores feudais, vassalos, mestres, oficiais e servos, e, em cada uma destas classes, gradações especiais (MARX; ENGELS, 1999, p. 67).

A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classes. “Não fez senão substituir velhas classes, velhas condições de opressão, velhas formas de luta por outras novas” (MARX, ENGELS, 1999, p.67)

Infelizmente, essa luta de classe significou e continua a significar uma violência constante, ou seja, um bullying social, em que decorrem outros tipos de violência, inclusive outros bullying, num efeito dominó de contaminação.

Os mais fracos, os “inúteis”, nesses casos as crianças, adultos, idosos que não pudessem ser eficientes à comunidade, ao grupo social ou ao Estado deveriam ser descartados, excluídos do convívio dos demais. Até o filósofo Platão, no seu livro A República, menciona a “limpeza dos indesejáveis”: Pegarão então os filhos dos homens superiores, e levá-los-ão para o aprisco, para junto de amas que moram à parte num bairro da cidade; o dos homens inferiores, e qualquer dos outros que seja disforme, escondê-los-ão num lugar interdito e oculto, como convém (PLATÃO, apud GUGEL, 1986).

Isso era muito comum em diversos povos: em Esparta, as crianças com deficiência eram eliminadas. Na Bíblia, o Antigo Testamento menciona a exclusão dessas pessoas, que só mudou com o novo pensamento trazido por Jesus, de amor, solidariedade e justiça. Em São João capitulo 9:1-3, por exemplo, vemos essa nova proposta , quando Jesus a vista um homem, cego de nascença. ”Seus discípulos indagaram:’Rabi,quem pecou,ele ou seus pais, para que nascesse cego?’Jesus respondeu:’Nem ele nem seus pais,mas é para que nele se manifestem as obras de Deus.”(BÍBLIA,1981,p.1397).Ou seja, Jesus convoca para o agir solidário, pois sempre haverá pobres entre vós, isto, é, sempre haverá pessoas com algum tipo de carência – econômica, afetiva, física, etc. A compaixão é compartilhar a dor do outro, se colocar no lugar do outro, portanto diferente da pena. Se fosse aplicado este ensinamento, assim de manifestaria a glória de Deus. Mas por que será que ainda não aplicamos? Por que os ditos cristãos não aplicam?

De acordo com a concepção rousseauniana, o ser humano nasce bom e se corrompe na vida em sociedade, quando passa a ter o sentimento de posse, do “é meu”, criando uma sociedade de opostos: os que possuem e os que são negados a ter. Ou será que o homem nasce com o instinto de ser individualista, possessivo, ambicioso, chegando a tornar-se mais desumana e vil das criaturas?

Em nossa opinião, o homem é dual, ou seja, existe a luz e a sombra, cabendo que ele seja conduzido, educado para a bondade. Ao longo da história do ser humano, vimos um sistema baseado na riqueza, que levou a muitas guerras e outras conseqüências desastrosas. A eugenia, por exemplo, praticada na Segunda Guerra, já era defendida muito antes de Hitler; grandes intelectuais de diversos países inclusive o brasileiro Sílvio Romero, falavam sobre a purificação da raça. Em Esparta, na Grécia, os disformes, ou melhor, os deficientes, deveriam ser eliminados, aplicando-se a lei de Darwin, em que os mais fortes estão mais aptos a sobreviver; isso é verdade em relação à natureza, porém não pode ser aplicado às pessoas. Nos animais, as mães eliminam a cria com dificuldade para sobreviver; entre os escorpiões, por exemplo, quando um filhote cai das costas da mãe, ela própria a devora. Ou seja: caiu, “dançou”. Mas com o ser humano não pode ser assim; temos “algo” que nos torna diferente, e esse “algo”, que nos faz transcender a esfera animalesca, também podem nos levar à esfera mais sombria da alma humana, como aconteceu durante o regime nazista. Toda a educação nazista era baseada na lei de Darwin e na seleção racial: “o fortalecimento, o robustecimento da capacidade física da pessoa é o primeiro e mais alto dever da geração jovem. Para medir a forma física é preciso uma luta contínua, uma luta que, sozinha, produzirá o racialmente mais apto para sobreviver” (SHIRACH apud KOCH, 1973, p. 77).

Diversas teorias absurdas e sem nenhuma comprovação científica era introduzidas na educação nazista, e tudo era justificativa para a eliminação dos deficientes, por exemplo, como mostra o trecho a seguir:

Uma pessoa mentalmente incapaz custa ao público 4 Reichsmark por dia; um aleijado custa 5 Reichsmark por dia e um criminoso condenado 3,50 Reichsmark. As estimativas cautelosas dizem que dentro das fronteiras do reich Alemão 300.000 pessoas estão recebendo cuidados em instituições públicas. Quantos empréstimos matrimoniais de 1.000 Reichsmark por casal poderiam ser concedidos anualmente, usando-se os fundos destinados a tais instituições?(KOCH, 1973, p. 100).

Podemos perceber até onde pode ir à monstruosidade do ser humano; nem faz muito tempo que ocorreu o estado Nazista. Podemos observar atualmente pessoas que defendem um modelo mais sutil de nazismo, que é o capitalismo de Estado mínimo, o neoliberalismo, como Forrester fala tão bem: um sistema que divide em economicamente arianos ou não. Que continua lançando milhões de horror da injustiça social. Será que as pessoas com deficiência e os idosos poderão ser tratados com dignidade, com direito de acessibilidade a prédios, transportes, trabalho...?Isso representa um certo custo, que tem que ser levado em conta pela velha lógica capitalista, como na educação hitlerista. Quanto custa a nossos cofres públicos? Haverá algo em troca? A violência continua a fazer dessas pessoas coitadinhas, fracas, inúteis, apesar de existirem correntes que tentam humanizar a sociedade (ou mesmo ganhar dinheiro à custa deles). Mas quem sabe nossa sociedade possa se tornar justa fraterna e humana? Oxalá que aconteça!

3 A ESTÉTICA DA PERVERSIDADE: REFLEXO DA SOCIEDADE INDIVIDUALISTA E DIVIDIDA

Quantos caminhos um homem deve andar

Pra que seja aceito como um homem

Quantos mares uma gaivota irá cruzar

Pra poder descansar na areia

Quanto tempo as balas de canhões explodirão

Antes de serem proibidas

(...)

Quantas vezes

Deve um homem olhar pra cima

Para poder ver o céu

Quantos ouvidos um homem deve ter Para ouvir os lamentos do povo

Quantas mortes ainda serão necessárias Para que se saiba que já se matou demais

(...)

Quanto tempo pode uma montanha existir Antes que o mar a desfaça

Quantos anos pode um povo viver

Sem conhecer a liberdade

Quanto tempo um homem deve virar a cabeça Fingindo não ver o que está vendo

(...)

Blowing in the Wind, composição de Bob Dylan

Versão: Diana Pequeno

Começamos este capitulo com a música de Bob Dylan: quanto tempo ainda será necessário para que a sociedade respeite o outro, onde o limite de poder do outro não ameacem o dos demais e nem crie uma relação baseada na força. Força essa que pode vir da economia, bélico, político, de atributos físicos ou cognitivos; mas neste capitulo falaremos do poder da estética e do estigma como fatores importante de violência, especificamente do bullying.

Uma das preocupações do ser humano sempre foi com o belo. É a questão da Estética, esta parte da filosofia que se preocupa com a beleza, que penetra nas diversas áreas culturais da construção humana, refletindo na relação com o próprio corpo como também com outro. Desde os primórdios do tempo, o visual, a sonoridade, sabores, da perfeição das coisas foi sempre a meta humana.

É nessa preocupação do belo e do feio que vai se relacionar o bem e o mal na historia humana, criando objetos, vestimentas, bandeiras, pinturas com significados a fim de denotar identidade, confirmar a participação do grupo indicando a posição do individuo ou a sua rejeição diante do grupo. Portanto, essas preocupações dos ornamentos carregam uma forte carga emocional, como também provocam uma reação emotiva como medo, respeito, privilégios, repúdios.

O estigma, segundo Goffman (1988), se refere a sinais corporais marcados na carne e muitas vezes provocados com instrumentos para indica a posição no grupo; de modo geral, o estigma significa como hoje ainda, uma conotação negativa do ser.

Mas, podemos no indagar em decorrência do exposto, que é de fato a beleza? Se a beleza é subjetiva, é emocional? Ou existe um único padrão do belo? O que desagrada visualmente à espécie humana? E se desagrada, devemos maltratar ofender, excluir dos demais?Essas indagações nos revelam a preocupação da filosofia no campo da ética, da estética, da ontologia. Mas não precisamos ser filósofos para constatar que a beleza, quando se coloca como instrumento de imposição de modelos ideal de perfeição, se torna instrumento de opressão, servindo para criar na diversidade humana um instrumento de domínio, de proporcionar desigualdade, desconforto e frustração. Como veremos mais adiante.

Vários filmes e livros mencionam o problema da estética. Nos contos de fadas os vilões são quase de aspecto feio, tenebrosos, idosos, com deficiência ou envolvendo a questão de etnias, por exemplo, judeus, ciganos. Os Contos dos irmãos Grimm e outros estão cheias de histórias envolvendo esses aspectos: podemos citar a Branca de Neve, quando a madrasta fala: “oh, espelho meu, existem alguém mais bonita do que eu? ”E A bela e fera”.

Já Cyrano de Bergerac, na obra de Edmond Rostand, trata também sobre esse ponto, a problemática da feiúra: o personagem principal, afetado emocionalmente e tendo que se esconder e se anular como pessoa, apesar de tantos atributos positivos, é muito interessante. O estigma é essa perturbação do visual, é perturbação de origem, é a desordem decorrente de um atributo não aceito pela sociedade, que termina rejeitar todo o individuo.

A grande questão é então: como aquelas pessoas, e principalmente as com deficiência, são afetadas? E como a escola, a família se comporta? Há películas que denunciam essa relação com o outro que apresenta deficiência mais severa, como o homem Elefante (1980), um filme baseado em um caso verídico em que ocorre a repulsa da maioria em decorrência aquele corpo humano deformado por uma doença congênita "Síndrome de Proteus".

O aspecto visual, devido a doenças, acidentes, ou características da própria etnia, muita vezes, quebra o que se considera “normal” da estética ou de comportamento. Vemos como isso afeta às relações humanas e torna-se um dos grandes problemas da violência, conhecida como bullying. Segundo Silva, as vitimam típicas

São pessoas frágeis fisicamente ou apresentam alguma 'marca' que as destaca da maioria dos alunos: são gordinhas ou magras demais, altas ou baixas demais; usam óculos; são 'caxias’, deficientes físicos; apresentam sardas ou manchas na pele, orelhas ou nariz um pouco mais destacados; usam roupas fora de moda; são de raça, credo, condição sócio-econômica ou orientação sexual diferentes. [...]. Enfim, qualquer coisa que fuja ao padrão imposto [...]. (2010, p 37 -38).

Dividir em “belo” e “feio”, principalmente em uma sociedade consumista, ou em que há desequilíbrios sociais, serviu na perpetuação da ditadura de um jogo de poder das classes privilegiadas, que se reflete no seu aspecto visual e criando padrões aceitáveis de beleza e de sociedade para um tipo de indivíduos que possam usufruir de todos os benefícios dessa civilização. E como ficam as pessoas que não atendem esse padrão, por exemplo, os com deficiência (no sentido amplo da palavra, pois implica acrescentar as pessoas idosas, obesas como também os pobres)? .Como serão vistos nessa sociedade?

Deficiência, segundo o dicionário Aurélio é “falta, carência de algo”, portanto o termo é bem amplo e doloroso numa sociedade como a nossa baseada no individualismo, na corrida do ter. O consumismo, a desigualdade social são impostos através da economia de mercado, que não se preocupa em produzir artigos de consumo para todos e sim de criar deficientes na população. O avanço tecnológico, de grandes descobertas fica estrito para uma pequena parcela da população que são economicamente viáveis:

Sim, assistimos a avanços científicos e tecnológicos notáveis e inegáveis, e nem por isso atravessamos de fato dias melhores. Somos, em tudo e por tudo súditos do império do dinheiro, que alonga suas fronteiras por cima das nacionais, transcende-as como se fossem inexistentes ou inúteis. Como valia em todos os campos, na arte e no esporte, na educação e na saúde. É da preparação até do mundo mineral o quanto a humanidade, ao se multiplicar, emburrece, assim como cresce a implacável separação entre ricos e pobres (CARTA, p. 20).

Ribas fala um pouco sobre o que são pessoas deficientes:

Qualquer sociedade existe valores culturais que se consubstanciam no modo como a sociedade está organizada. São valores que se refletem imediatamente no pensamento e nas imagens dos homens, e norteiam as suas ações. São valores que terminam pró se refletir nas palavras com que os homens se exprimem. Assim sendo, em todas as sociedades a palavra ‘deficiente’ adquire um valor cultural segundo padrões, regras e normas estabelecidos no bojo de suas relações sociais (RIBAS, 1983, p.120).

Apesar de pertencer a mesma raça humana, “vivemos, assim, em sociedades em que os homens são socialmente desiguais. São sociedades problemáticas, com profundas divisões entre classes sociais” (RIBAS, 1983, p.13).

Nesse modelo de sociedade em que estabelece as divisões se criam os termos “deficiente” e “eficiente”. O deficiente, conforme vimos no Aurélio, significa carência de algo ou insuficiente. Ou seja, aqueles que não esta com uma potencialidade plena para oferecer a sociedade, ou ao mercado. Melhor dizendo, é uma peça quebrada, é um corpo fora de ordem, para atender ao progresso. Não é à toa que o lema do positivismo é ordem e progresso, e que influenciou fortemente o nosso país.

A nossa sociedade, através da cultura que vem desde os tempos primordiais, ,quando começou a surgir a divisão em classes, foi criando o conceito e o culto da anatomia, do corpo bem formado e uma mente saudável para assim servir para o Estado, toda uma organização, uma homogeneidade de seres saudáveis e útil ao grupo, ao Estado.

O culto da beleza sempre foi, como vimos até agora, um instrumento para serem usado como mecanismo de dominação, de classificação e de alienação com esses propósitos de favorecer uma sociedade dividida, egoísta e consumista. Não é por nada que um dos ramos que mais cresce na economia no nosso país é o de cosméticos, pois

O Brasil é o terceiro mercado consumidor de produtos de higiene e beleza do mundo, ficando atrás dos Estados Unidos e do Japão. Em 2008, o setor registrou R$ 21,2 bilhões em volume de vendas. A produtora Juliana Gama, 26 anos, gasta R$ 1.500 por mês com cuidados para beleza, incluindo academia, tratamento estético e a compra de alguns produtos. Ela conta que está sempre procurando novidades para cuidar do corpo, mas diz que intensifica os tratamentos durante o verão (LAN, 2010)

Verificamos como essa preocupação visual e de utilidade para servir ao grupo, a “capacidade rentável”, é tão forte que afetou e continua afeta o nosso convívio com o outro, desde sociedades como Esparta, Grécia, Roma, Judéia, Índia, nas quais os deficientes não eram aceitos; eram mortos ou simplesmente destinados a ser inferiores ou excremento da sociedade. Um exemplo entre tantos é o dos leprosos (hoje, conhece-se a doença por hanseníase), que eram ditos como pessoas com sinal de impureza, de pecado, discriminados e privados do convívio social.

E, hoje, será que a dignidade do ser humano é respeitada?Será que sabemos lidar com a diversidade do ser humano na sua maneira de ser, de suas limitações de suas diferenças?

Ainda vemos atos que agridem a dignidade humana sendo praticados em diversos países, muitas vezes de maneira banalizada, como ocorre na China com vários assassinatos de crianças do sexo feminino; a Índia continua com a política de castas; países como Estados Unidos com seus guetos e prisões ferindo os direitos humanos, ou escolas com vários casos de violência; e inclusive no nosso país, que vemos as nossas favelas, os sem teto, os sem trabalho... são tantos casos de violência humana dessa grandeza baseados nessa “cultura de morte”, provocando nas pessoas uma degradação que se assemelha ao visual de filmes de terror, com pessoas desfiguradas, maltratadas pela violência, pela fome, com os abusos decorrentes do egoísmo, ambição, indiferença ou até mesmo ódio.

O nazismo sobre aproveitar essa cultura da utilidade e da beleza dos indivíduos; no século passado, - foram utilizadas propagandas de Goebbels e principalmente os filmes de Leni Riefenstahl, que usando a estética dos movimentos, o corpo, imagens, encantaram e emocionaram uma nação para o ideal puramente discriminatório e unido para um único pensamento de uma única beleza, de uma única ordem “perfeita” da raça ariana, que podemos assim dizer de uma estética da morte. A beleza encantou com sua forma harmoniosa, mas desumana.

É essa Estética que, em doses mais discretas do que as praticadas pelos nazistas no século passado, continuamos a observar nos tempos atuais disfarçadas com certas preocupações sociais e ecológicas, mesmo assim conforme os interesses econômicos.

Estamos mergulhando nesse sistema decorrente da imposição do mercado, definindo a marcação de indivíduos como gado, seja pelos aspectos de ordem naturais como de etnias, de patologias ou decorrente de culturas endêmicas ou de problemas econômicos que traduzem a beleza dos guetos das favelas, das musicas empurrada pela mídia de fortes apelos sensuais, parecendo que popular é chulo, obsceno, quando na verdade é empurrado pelos opressores. Uma série de produtos de péssima categoria, inclusive privando muitos de ter acesso coisas belas. As vestimentas são negadas, uma condição digna também.

Pessoas são marcadas desde antes de nascer; são marcas feitas pela própria sociedade, decorrentes da origem ou dos desvios feito no passado- o que se expressa em frases como “pau que nasce torto, morre torto”. O universo é de alienação, de uma repetição da política “do pão e circo” dos romanos, inclusive com direito a gladiadores modernos, festivais de luta livres, boxes, rinhas de galos, entre outros.

Será reflexo da sociedade que ainda persiste em seguir a velha ideologia de escravizar as pessoas e classificá-las numa casta de inferiores e de superiores, de bem nascidos e de mal nascidos, de monstros e de deuses olímpicos. Da pintura de Cândido Portinari vemos como a nossa “civilização” continua a produzir essas imagens, retratos da exclusão ou dos campos de concentração nazistas com outro nome, como favelas, guetos, “ilhas”. Muitas contaminadas com a drogas e o narcotráfico. (Ver anexo).

Goffman (1988) fala de sinais corporais para destacar atributos negativos da comunidade, atingindo-a no status moral. Esses sinais – ou estigmas, segundo ele - seriam um atributo altamente depreciativo dentro de uma relação com o outro. Nessa relação entre atributo e estereótipos a credibilidade está em jogo.

Portanto, o termo estigma tem ligação com a expectativa da sociedade em relação às pessoas, isto é: ser um religioso é ser bondoso; ser é mulher é ser sensível e assim sucessivamente. Mas estigma é mais profundo do que uma simples expectativa não atendida, como já falamos anteriormente: ele se apresenta em três, segundo Goffman:

1 abominações do corpo;

2 as culpas de caráter individual (vontade fraca, paixões tirânicas ou não naturais, crenças falsas e rígidas);

3 tribais de raça, nação e religião (1988, p. 14).

Em todos os estigmas há as características sociológicas, como vimos, afetando a nossa cultura, a nossa relação com o outro, que segundo Goffman, pode ser de a aceitação ou negação dentro da sociedade ou da comunidade. Mas um traço num individuo pode impor atenção e afastá-lo dos demais, não possibilitando enxergar outros atributos desse ser humano, quem diga Cyrano de Bergerac. Seja devido ao visual, se já foi preso, viciado, analfabeto, nordestinos, desempregados ou até de outra denominação religiosa... são fatores que se enquadram nesses tipos de Goffman.

As pessoas com deficiências (no sentido restrito), por apresentarem um aspecto físico e ou capacidade cognitiva prejudicada, logo são discriminadas, maltratadas nas ruas, nas instituições sociais, nas escolas. Isto diz respeito às pessoas que apresentam sinais, marcas que desagradam ou provocam risos ou pena para a sociedade. Será muito diferente que acontece aos pobres? Idosos?

Cintra Ribas vai confirmar que é justamente nessa relação com o outro que está o grande problema, criado por uma sociedade cujos valores egoístas, levados ao extremo fazem com que

Toda pessoa considerada fora das normas e das regras estabelecidas é uma pessoa estigmatizada. [...] uma pessoa traz em si o estigma social disso deficiência. Contudo, é estigmatizada porque se estabeleceu que ela possui no corpo uma marca que distingue pejorativamente das outras pessoas. Porque a nossa sociedade divide-se estruturalmente em classes sociais, aqueles considerados 'iguais' colocam-se num pólo da sociedade e aqueles considerados 'diferentes' colocam-se no outro pólo. Mais do que isso: muitos dos considerados 'diferentes' introjetam essa divisão como se ela fosse absolutamente natural. Aceitam até a condição de inferiores. ( RIBAS, 1983, p. 17).

Como fala de uma educação inclusiva se ainda existe uma ideologia perversa da integração ou, mais ainda, da exclusão?

As pessoas com deficiência, por mostrarem as sua “falhas” (pois, muitas vezes, não podem escondê-las) são motivos de riso ou de violência de varias ordens, inclusive da negação a diversos serviços como transportes, educação, trabalho. Não esquecendo que episódios de intolerância como os relatados abaixo são comuns e infelizmente ficam impunes:

na madrugada de 20 de abril de 1997, cinco rapazes de classe média-alta de Brasília atearam fogo ao índio pataxó Galdino Jesus dos Santos, 45 anos, que dormia sob um cobertor numa parada de ônibus, confundindo-o com um mendigo. Galdino dormia num ponto da Quadra 703 Sul, após ter participado de uma manifestação por ocasião do Dia do Índio e morreu horas depois (AGÊNCIA ESTADO, 2011).

Outro caso foi o de Sirlei Dias de Carvalho Pinto, brasileira, empregada doméstica, 32 anos, foi agredida e [...] “Porque não pensaram quando me agrediram e me 'xingaram'”[ ....].(AGÊNCIA ESTADO) Sirlei foi agredida por ter sido confundida com uma mulher prostituta.

Então, como evitar a violência da estética e do estigma? Vemos que existe um grande elo entre estigma e estética, pois ambos dizem respeito a padrões de aspecto harmonioso, diferenciando que o estigma é a marca, o sinal que o individuo apresenta, classificando-o.

Também nas escolas reflete uma sociedade altamente competitiva e classificatória. O bullying continua refletindo no modelo de que uns têm acesso às benesses de uma vida digna e a outros é simplesmente negada até a oportunidade de trabalhar; Forrestan diz em seu livro que nunca haverá trabalhos para todos e que, na medida em que a ciência avança, menos trabalhadores serão necessários nas fabricas e campos.

É fato: nossos jovens não têm esperança de conseguir trabalho. Se existissem políticas que proporcionassem esse direito ao trabalho, resolveriam, talvez, a problemática da evasão. Uma vez que o trabalho é um direito que é para poucos, mesmo que alguns digam que não existe discriminação, pois inúmeros casos de pessoas são discriminados, ou seja, estigmatizadas com problemas de deficiências desde a idade, físicas, cognitivas, gêneros, e tantos outros.

Como podemos lidar com inclusão se somos excludentes? Se nossa cultura é altamente carregada do individualismo, que está refletido no relacionamento na família, nas escolas, é evidente que o numero de violências no mundo tem aumentado incluindo dentro das escolas.

O bullying social também diz respeito à própria escola, uma vez que é a própria escola, em certa maneira, que se encarrega de transmitir esses valores do individualismo levado ao extremo, dos padrões de beleza nos moldes da competição, com apoio da família e da mídia.

Jamais devemos perder de vista também que existem outros 'rivais' que disputam com pais e professores a ascendência educativa sobre jovens. Entre eles podemos citar a cultura televisiva: o universo da propaganda, da internet, da musica, do consumo, das drogas; e tudo o mais que expressa a cultura [...]. (SILVA, 2010, p.65).

Então como combater essa ideologia que penetra em tudo, como podemos fazer que nossa relação com o outro, com indivíduos desprezados da sociedade, não seja excludente, ou que ele seja tratado como “coitadinho”?

A estatística aponta um fato alarmante uma parte da população brasileira ainda vive abaixo de uma condição digna, apesar dos esforços do governo do presidente Lula e, agora com Dilma de erradicar a miséria, “uma vez que são 26,8 milhões de crianças e jovens que vivem com renda de até meio salário mínimo, a oferta de ensino de qualidade exige políticas públicas que os enxerguem de fato” (CAMARGO, 2011, p.24).

Como falar de inclusão se uma parcela da população vive na miséria? Uma sociedade com leis muitas vezes não obedecidas ou desestimuladas por tribunais com leis processuais em que impera a sua celeridade; inúmeros processos estão à espera nas filas de julgamentos. Na prática o direito de alguns fica só, muitas vezes, no papel. Infelizmente, são inúmeros casos de agressão que nem se quer chegam à Justiça devido à falta de informação ou pelo formalismo exagerado e caro. Inúmeros processos que são arrastados em recursos e recursos há décadas para decidir um ou vários direitos violados, levando então ao desestimulo de procurar a justiça, pois infelizmente o Poder Judiciário está longe, ainda, apesar do grande esforço. É ainda um Poder longe da sociedade, do clamor dos excluídos.

Inclusão seria proporcionar meios para que todos pudessem usufruir a benesse de uma vida digna, e diferente dos esforços dos estigmatizados de se adaptarem a esse meio tão

hostil- muitas das dificuldades se refletem na própria escola. Silva diz muito bem sobre esse individualismo da modernidade em que estamos vivendo diz ela:

a grande ideologia sobre a qual se alicerça a modernidade é o que conhecemos por individualismo. O individualismo é, basicamente, um conceito moral que preconiza o melhor tipo de vida que cada um de nós deve viver. E, dentro dessa concepção, o melhor tipo de vida é aquele que compreende o autodesenvolvimento, a autorrealização, a autossatisfação. Pela cultura moderna, cada um de nós tem o dever ou mesmo a obrigação moral de buscar tudo que houver de melhor para si. E isso inclui, de forma explícita, uma tríade muito perigosa: poder, status e diversão (SILVA, 2010, p.132).

No ambiente adverso em que esses indivíduos vivem, de estimulação do consumismo, onde marcas de atributos negativos vão de certa maneiras proporcionar o tal fracasso escolar ? De incompetência? Será a confirmação da teoria de Darwin, que o meio faz o homem?

É nessa diversidade que devemos trabalhar para que nossa utopia se transforme em fatos, a utopia da inclusão -uma educação que possa atender de fato a todos- porém, essa tarefa não deve ficar estrita ao professor apenas, mas de vários profissionais e toda a comunidade e principalmente a família. Isso significa também custos, e custo não é uma palavra que agrada muito aos economistas- pois é necessário o mínimo de profissionais preparados.

De acordo com Silva,

Antes de tudo, é fundamental compreendermos que toda ação educativa é sempre complexa e exige que atentemos para vários fatores. Sendo assim, ela não é influenciada somente pelos comportamentos individuais de quem a exerce, em especial, dos pais e os professores. Os aspectos culturais e sociais também atuam profundamente no processo educativo e sobre a base biopsicológica de cada indivíduo (SILVA, 2010, p.57).

Mas o que vemos são professores sobrecarregados para assumir toda a preocupação e responsabilidade de desenvolver e praticar uma pedagogia inclusiva numa estrutura tão adversa da sala de aula. Na verdade deveria haver, também, um suporte de outros profissionais. Inclusive para trabalhar com as famílias, que muitas vezes nem aparecem para saber sobre seus filhos, deixando seus rebentos nas escolas e com esperança que a escola seja a tábua de salvação de todas as problemáticas do meio social que as famílias estão inseridas. Ainda essa escritora aponta o problema da família:

As consequências dessa renúncia dos pais aos seus papéis de educadores são, no mínimo, desastrosas, para não dizer explosivas. Resultam em filhos egocêntricos, sem qualquer noção de limites, totalmente despreparados para enfrentar os desafios e obstáculos inerentes à própria vida. Sem contar com [...] filhos viciados em substancias químicas ou em comportamentos que lhes garantam prazer imediato e inconseqüente. (SILVA, 2010, p.62-63).

Como podemos trabalhar com inclusão se essas crianças que não conhecem limites, se sofrem da carência de afetos (independentemente de classes sociais) se são excluídas no próprio lar? É uma missão, pois reconheçamos, que o espaço para dar um pouco de cidadania e dignidade é muito reduzido, muitas vezes restando a escola, pelo menos é o que se espera! Para romper o determinismo da exclusão para aquelas crianças marcada de algum tipo de discriminação e continuar na luta, pois caso contrário haverá evasão nas escolas ou até a perpetuação do sistema da injustiça de ódio; é necessário romper esse decreto.

Quando nasci veio um anjo safado O chato do querubim E decretou que eu estava predestinado A ser errado assim Já de saída a minha estrada entortou Mas vou até o fim “inda" garoto deixei de ir à escola

(Chico Buarque)

O sistema escolar, infelizmente tende a reproduzir a sociedade da exclusão; podemos aplicar o artigo quinto da Constituição federal de 1988 para garantir que todos possam ter direito à liberdade, à segurança, à igualdade e à propriedade? Pois as instituições e suas comunidades são formadas como nos dizeres de Silva:

A comunidade escolar tende a reproduzir, em maior ou em menor escala, a sociedade como um todo. A hierarquia escolar compreende os diretores, supervisores, orientadores, professores, inspetoresefuncionários que cuidam do espaço físico e de toda a engrenagem funcional e administrativa da instituição. Dentro dessa esfera, todos devem exercer seus papéis de forma eficiente e solidaria, para que os alunos possam aprender e praticar todo o conhecimento de que precisarão na caminhada rumo à vida [...]. (SILVA, 2010, p.79).

Sabemos que a questão não é só de leis, mas de mudança de mentalidade de toda a sociedade, cujos valores individualistas são colocados ao extremo, devido ao sistema econômico que faz as leis da Declaração dos Direitos Humanos, do Estatuto da Criança e do Adolescente, dos idosos, dos deficientes para uma pequena da parcela da população aprender e praticar todo o conhecimento do que usufruir, pois a estrutura impede que a informação. Até para contar com essas maquinas jurídicas, muita vezes perdidas no formalismo e da burocracia para a aplicação da lei, é feita uma verdadeira maratona que exige tempo e dinheiro na defesa de direitos, parecendo um favor do Estado.

Um ponto que dificulta muito diz respeito ao espaço físico do ambiente educacional. Para atingir esse propósito, foi utilizada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação nacional 9394/96, a Constituição Nacional de 1988, além de outros códigos e pesquisas que estabelecem o direito de acessibilidade dessas pessoas a todos os locais públicos, inclusive à área educacional. O “fenômeno expõe não somente a intolerância às diferenças, como também dissemina os mais diversos preconceitos e a covardia nas relações interpessoais dentro e fora dos muros escolares.” (SILVA, 2010, p.64). Infelizmente, mais uma vez será possível observar que as estruturas arquitetônicas de veículos de transporte, ruas, calçadas e a própria escola não se preocupam com fatores indispensáveis à inclusão social e, consequentemente, continuam a desrespeitar as pessoas com deficiências; afinal como a escola pode ensinar o respeito às diferenças se ela própria não possui condições de acesso a todos aqueles que dela necessitam?

Do exposto, podemos dizer que esse sistema econômico reproduz um cenário de muita intolerância e de injustiça. O bullying da estética é tão perverso que ressoa no nosso modo de vida, nos nossos modelos de transportes, assentos, vestuários ou nossas relações humanas, maneiras de interagir com o outro e com a produção cultural dessa sociedade, dos grupos humanos que são guiados nas diretrizes, infelizmente, do mercado. Apesar de sermos todos iguais no aspecto de sermos da mesma espécie humana, todavia, existem aqueles que acham que são diferentes dos demais e não aceitam a diferença de idéias do outro e começam a fazer uma serie de classificações de acordo com a ideologia - impondo padrões aceitáveis e de beleza.

Portanto, precisamos é de mudar de paradigmas baseados na solidariedade, respeito, no amor ao próximo.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegamos a final da monografia. Sabemos que ainda falta muito para chegar a uma resposta definitiva sobre o que leva o ser humano a ser tão cruel e egoísta, pois a complexidade da espécie é grande. Todavia, podemos ser categóricos: existem políticas e sistemas econômicos que levam o “desenvolvimento” da espécie para a violência, a guerra e o bullying, criando um labirinto de angústias.

Permanecemos numa cultura que nos submete como seres primitivos, com sofisticadas ferramentas e tecnologias. Evoluímos no aspecto do intelecto, mas no espírito de fraternidade, solidariedade, justiça e honestidade falta muito.

Refletimos e analisamos que não houve uma grande mudança do tempo de Jesus para cá. No aspecto do humanismo, pelo contrário, escolhemos e nos deixamos submeter a um modelo econômico que sufoca, angustia, amedronta, além de favorecer a disputa, a concorrência, a usura, o consumismo. Apesar de mostrar sinais de decadência em alguns países como Grécia, Espanha, Portugal, Islândia e Estados Unidos, continua a imperar a ideologia financeira, onde as nações obedecem cegamente aos sacerdotes de um deus louco, o capital, submetendo-se ao “empobrecimento” e à destruição ecológica constante e cíclica, devido a ambição e à ganância.

A natureza humana é dual, como vimos no primeiro capítulo. A sombra, encontrando um meio que a estimule, cresce na sociedade moderna, nessa estrutura econômica. A violência vem aumentando no mundo inclusive no Brasil.

O bullying se destaca devido à repetição constante sobre um individuo ou grupo. Dentro desse grupo estão inseridos os indivíduos com deficiências no seu sentido amplo, que sofrem discriminação, humilhações, privação e opressão. O capitalismo vem e continua a levar, como mostramos, ao preconceito e à divisão de classes.

Gozamos da mais alta tecnologia, máquinas, medicamentos, etc., mas só uma minoria tem acesso. A sociedade excludente aplica bullying toda hora com o outro, muitas vezes sem perceber, deixando à margem, determinando a um destino árduo e até mesmo condenando á morte.

Não resta dúvida da importância deste estudo para a sociedade, servindo como instrumento para todas as pessoas dispostas a dignificar o trabalho. Conhecendo o problema do bullying, teremos condições de tomar medidas práticas que possam evitá-lo. Despertar a cidadania seria em decorrência dessa reflexão: reivindicar uma sociedade para todos, em que todos possam usufruir dos benefícios de uma vida digna, independentemente de qualquer diferença, como nos garante o artigo quinto da Constituição Federal.

A escola, como reflexo da sociedade, tem que perceber e refletir sobre seu papel. Para isso não deve contar apenas com o professor, mas com toda uma estrutura que possibilite sua atuação, com o apoio de outros profissionais que possam somar na visão de uma sociedade inclusiva, englobando os espaços fora da escola e a participação familiar. Por esta razão escolhemos este assunto: para contribuir com uma educação da quais todos possam usufruir com qualidade.

REFERÊNCIAS

Agência Estado. Doméstica confundida com prostituta no Rio receberá mais de 500 mil. Disponível em: http://www.abril.com.br/noticias/brasil/domestica-confundida-prostituta-rio-recebera-mais-r-500-mil-588282.shtml. Acesso em 08 de abril de 2011.

BULLYING. 2011. Disponível em: http://www.wikipedia. Acesso em 02/01/2011.

CAMARGO, Paulo de. Revista Educação nº 170. Ano XV. Ed. Segmento, junho de 2011.

CARTA, Mino. Editorial. Revista Carta Capital, nº 653, ano XVI. 06 de julho de 2011. São Paulo: Ed. Confiança. Ltda.

CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. Ed. 4. São Paulo: Ática, 1995.

DESCONHECIDO, autor. O lobo branco e o lobo negro. Disponível em: http://quintadolobobranco.blogspot.com/2011/04/blog-post.html. Acesso em: 08 de abril de 2011.

ENGELS, Friedrich: MARX, Karl. Manifesto do Partido Comunista. Coleção Clássicos do Pensamento Político. Petrópolis: Vozes, 1999.

FORRESTER, Viviane. O horror econômico. Reimp. 3. São Paulo: Universidade Estadual de São Paulo, 1997.

GIRAUDO, Tiago. Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulinas, 1981.

GOFFMAN, Erwing. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. LTC, 1988.

GUGEL, Maria Aparecida. A pessoa com deficiência e sua relação com a história da humanidade. São Paulo : CEDAS, 1986. Disponível em: http://www.ampid.org.br/Artigos/PD_Historia. php. Acesso em: 27/02/2011.

JUNG, Carl Gustav (1875-1961). Psicologia e Alquimia. Rio de Janeiro: Vozes, 1990.

______________. Aion: estudos sobre símbolos de si mesmo. Rio de Janeiro: Vozes, 1978.

KOCH, H. W. Juventude Hitlerista: mocidade traída. História Ilustrada da segunda guerra undial. Riode Janeiro: Renes, 1973.

Lan, Johny. Consultoria em Marketing e novos negócios. Disponível em: http://www.mktmais.com/2010/01/beleza-brasil-e-o-terceiro-mercado-em.html-. Acesso em: 03/07/2011.

MARTINS, Ana Rita. Bullying contra alunos com deficiência. Revista Nova escola. Disponível em: . Acesso em 30 de novembro de 2010.

MARTINS, Ana Rita. Diferenças: respeito versus preconceito. Revista Nova Escola. Disponível em: . Acessado em: 30 de novembro de 2010.

MELO, Josevaldo Araújo de. Bullying na escola: como identificá-lo, como preveni-lo, como combatê-lo. Recife: EDUPE, 2010.

NADER, Paulo. Introdução ao estudo do Direito. Rio de Janeiro: Forense, 1995.

NOVAES, Carlos Eduardo; RODRIGUES, Vilmar Silva. Capitalismo para principiantes. 27 ed. São Paulo: Ática, 2003.

OLIVEIRA, Luiz Fernandes de; COSTA, Ricardo Cesar Rocha da. Sociologia para jovens do século XXI. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2007.

OLIVEM, Rubens George. Violência e cultura no Brasil. 4 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1982.

RIBAS, João B. Cintra. O que são pessoas deficientes. Brasiliense: coleção primeiros passos. Nº 89. 1983.

SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes perigosas na escola: bullying. Rio de Janeiro: Fontanar, 2010.

SOLIGO, Angela. Bullying na Escola. Entrevista. Jornal do professor. (2009). Ed. 32. Disponível em: . Acesso em: 16 de novembro de 2010.

WEIL, Pierre. Esfinge: estrutura e símbolo do homem. Rio de janeiro: Petrópolis, 1978.

WIKIPEDIA. Galdino de Jesus dos Santos. Disponivel em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Galdino_Jesus_dos_Santos.

Enviado e autorizado a publicação pelo autor em 09/10/2011

2 comentários:

  1. excelente,parabéns!!!!!!!!!!!!

    ResponderExcluir
  2. Parabéns,pelo blog.ótimo os artigos.Aproveito ,em especial," BULLYING NAS ESCOLAS: REFLEXO DE UMA SOCIEDADE EXCLUDENTE",pois foi muito útil no meu trabalho e nas minhas pesquisas.

    ResponderExcluir