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sábado, 4 de fevereiro de 2012

JORNADA DE TRABALHO DOS/AS PROFESSORES/AS

LEI Nº 11.329, DE 16 DE JANEIRO DE 1996

EMENTA: Dispõe sobre o Estatuto do Magistério Público de Pré-Escolar, Ensino Fundamental e Ensino Médio do Estado de Pernambuco.

O GOVERNADOR DO ESTADO DE PERNAMBUCO: Faço saber que a Assembleia Legislativa decretou e eu sanciono a seguinte Lei:

TÍTULO I

DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 1º - A presente Lei, denominada Estatuto do Magistério Público do Estado de Pernambuco, estrutura, organiza e disciplina a situação jurídica do Pessoal do Magistério vinculado a Administração Estadual Direta.

Art. 2º - O exercício das funções do magistério público tem como espaço de intervenção o campo educacional, na perspectiva da construção de uma escola pública democrática e de qualidade, reconhecendo a educação como direito social básico.

TÌTULO II

DO QUADRO DO MAGISTÉRIO

CAPÌTULO I

DAS CARREIRAS DO QUADRO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO

Art. 3º - O Quadro de Pessoal do Magistério Público compreende a carreira do magistério público de pré-escolar e do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série, e a carreira do magistério público de Ensino Fundamental de 5ª a 8ª série e de Ensino Médio.

Art. 4º - A carreira do magistério público de pré-escolar e do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série e o agrupamento das classes do cargo público de professor de pré-escolar e do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série.

Art. 5º - A carreira do magistério público do Ensino Fundamental de 5º a 8º série e Ensino Médio e o agrupamento do cargo público de professor do Ensino Fundamental de 5º a 8º série e do Ensino Médio.

CAPÍTULO II DAS FUNÇÕES DOS CARGOS DAS CARREIRAS DO MAGISTÉRIO

Art. 6º - As funções do magistério público compreendem o exercício da regência de classe e de atividades técnico-pedagógicas que dão diretamente suporte as atividades de ensino, e que requerem formação específica.

§ 1º - A regência de classe será exercida em escolas públicas registradas no Cadastro Geral da Secretaria de Educação e Esportes e em centros de ensino e esportivos da rede estadual.

§ 2º - A execução de atividades técnico-pedagógicas se dará em escolas, centros de ensino, de reabilitação e de educação especial, e em equipes centrais ou regionais da Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco.

Art. 7º - São atribuições do professor em regência de classe: I - planejar e ministrar aulas, coordenando o processo de ensino e aprendizagem nos diferentes níveis de ensino;

II - elaborar e executar programas educacionais;

III - selecionar e elaborar o material didático utilizado no processo ensino-aprendizagem;

IV - organizar a sua prática pedagógica, observando o desenvolvimento do conhecimento nas diversas áreas, as características sociais e culturais do aluno e da comunidade em que a unidade de ensino se insere, bem como as demandas sociais conjunturais;

V - elaborar, acompanhar e avaliar projetos pedagógicos e propostas curriculares;

VI - participar do processo de planejamento, implementação e avaliação da prática pedagógica e das oportunidades de capacitação;

VII - organizar e divulgar produções científicas, socializando conhecimentos, saberes e tecnologias;

VIII - desenvolver atividades de pesquisa relacionadas à prática pedagógica:

IX - contribuir para a interação e articulação da escola com a comunidade.

X - acompanhar e orientar estágios curriculares.

Art. 8º - São atribuições do professor no exercício de atividades técnico-pedagógicas:

I - acompanhar e apoiar a prática pedagógica desenvolvida na escola;

II - estimular atividades artísticas, culturais e esportivas na escola;

III - localizar demandas de capacitação em serviço e de formação continuada;

IV - programar e executar capacitação em serviço;

V - participar da formulação e aplicação do processo de avaliação escolar;

VI - acompanhar a dinâmica escolar e coordenar ações interescolares;

VII - supervisionar a vida escolar do aluno;

VIII - zelar pelo funcionamento regular da escola;

IX - assessorar o processo de definição do planejamento de políticas educacionais, realizando diagnóstico, produzindo, organizando e analisando informações;

X - promover a divulgação, monitorar e avaliar a implementação das políticas educacionais;

XI - realizar avaliação psicopedagógico e prestar atendimento aos alunos portadores de deficiência.

CAPÍTULO III

DO PROVIMENTO E DO ACESSO

Art. 9º - O acesso aos cargos das carreiras do magistério público, de acordo com a habilitação, se fará sempre através das respectivas classes iniciais de cada cargo, e obrigatoriamente na atribuição de regência de classe.

Parágrafo único - O ingresso no Quadro de Pessoal do Magistério Público dar-se-á por meio de concurso público de provas ou provas e títulos.

Art. 10 - Para acesso ao cargo de professor de pré-escolar e do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série, respeitadas as classes iniciais de cada cargo da carreira do magistério de pré-escolar e do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série, será exigida formação para o magistério em nível médio ou licenciatura plena em Pedagogia com habilitação para o magistério.

Art. 11 - Para o exercício do cargo de professor do Ensino Fundamental de 5ª a 8ª série e do Ensino Médio da carreira do magistério público do Ensino Fundamental de 5ª a 8ª série e Ensino Médio exigir-se-á Licenciatura Plena compatível com a disciplina a ser ministrada.

Art. 12 - Serão exigidos cursos específicos em nível de Especialização, lato-sensu - com carga horária mínima de 360 (trezentos e sessenta) horas/aula:

I - dos professores que pretendam atuar com alunos matriculados em classe especial;

II - dos professores que pretendam reger a disciplina de Educação Artística, que tenham Licenciatura Plena em outras áreas da educação.

Parágrafo único - A qualificação de que trata este artigo somente será reconhecida quando o servidor a obtiver em instituições de ensino superior reconhecidas pelo Poder Público.

Art. 13 - As funções técnico-pedagógicas serão exercidas por professor com titulação pós-graduada "lato sensu" ou "stricto sensu" e com 5 (cinco) anos na regência de classe.

§ 1º - A designação para o exercício de atividades técnico-pedagógicas se fará mediante processos de seleção interna de provas e títulos.

§ 2º - Os critérios e normas que nortearão a seleção interna de que trata este artigo ficarão a cargo de comissão interinstitucional, formalmente constituída, composta de representantes da Secretaria de Educação e Esportes, do sindicato representativo da categoria dos professores da rede pública estadual e de instituições de ensino que promovam cursos de pós-graduação relacionados as licenciaturas.

§ 3º - A localização e lotação dos selecionados dar-se-á segundo a ordem de classificação no processo de seleção.

§ 4º - Para as funções de diretor e diretor-adjunto de escolas não haverá exigência do processo seletivo conforme dispuser lei específica de iniciativa do Poder Executivo.

§ 5º - O professor readaptado poderá desenvolver atividades-técnico-pedagogicas, para tanto devendo cumprir a exigência prevista no "caput" deste artigo no prazo máximo de 3 (três) anos, sendo lotado para o desempenho da função de acordo com a necessidade do serviço, após preenchidas as vagas decorrentes da seleção.

TÍTULO III

DA JORNADA DE TRABALHO

Art. 14 - O regime de trabalho do professor do Serviço Público do Estado de Pernambuco e fixado em hora-aula, independente da função que exerça e do nível de ensino em que atue.

Parágrafo único - A carga horária do professor terá duração mínima de 30 (trinta) horas-aula semanais, correspondentes a 150 (cento e cinquenta) horas-aula mensais e a duração máxima de 40 (quarenta) horas-aula semanais, correspondentes a 200 (duzentas) horas-aulas mensais.

Art. 15 - A duração da hora-aula em qualquer dos turnos diurnos de trabalho, quer na regência ou na execução de atividades técnico-pedagógicas, será de 50 (cinquenta) minutos.

Parágrafo único - Será de 40 (quarenta) minutos a duração da hora-aula prestada pelo professor em regência de classe, quando em turno noturno.

Art. 16 - Compõem a carga horária de professor regente:

I - horas-aula em regência de classe;

II - horas-aula atividade;

§ 1º - As horas-aula atividade corresponderão a 20% (vinte por cento) da carga horária total do professor, para docentes que desenvolvam suas atividades em classes da pré-escola e de 1ª a 4ª série do Ensino Fundamental.

§ 2º - As horas-aula atividade corresponderão a 30% (trinta por cento) da carga horária total do professor, para docentes que desenvolvam suas atividades em classes de 5ª a 8ª séries do Ensino Fundamental e do Ensino Médio.

§ 3º - A hora-aula em regência de classe e a atividade de ensino-aprendizagem desempenhada em sala de aula na escola ou em espaço pedagógico correlato.

§ 4º - A hora-aula atividade compreende as ações de preparação, acompanhamento e avaliação de prática pedagógica e inclui:

a) elaboração de planos de atividades curriculares, provas e correção de trabalhos escolares;

b) participação em eventos, reflexão da prática pedagógica, estudos, debates, avaliações, pesquisas e trocas de experiências;

c) aprofundamento da formação docente;

d) participação em reuniões de pais e mestres e da comunidade escolar;

e) atendimento pedagógica a alunos e pais.

Art. 17 - O professor regente planejará anualmente a utilização de suas horas-aula atividade, devendo desenvolve-las na escola.

Art. 18 - O professor desempenhará a sua carga em uma única escola sempre que houver disponibilidade de vaga para disciplina para qual se encontre habilitado § 1º Quando ocorrer disponibilidade de carga horária para uma disciplina em qualquer das unidades de ensino de rede estadual, terá a preferência para lotação o professor que:

a) possua habilitação específica;

b) conte com maior tempo de lotação na própria escola;

c) exerça, por maior lapso de tempo, serviço no magistério público estadual.

§ 2º - A precedência para lotação, dar-se-á sempre em favor do professor que já possua parte de sua carga horária na própria escola.

Art. 19 - O professor que faltar até 10% (dez por cento) da respectiva carga horária mensal poderá ter faltas abonadas, desde que as compense no prazo de até 30 (trinta) dias contados da última falta.

§ 1º - Cada 03 (três) atrasos ou saídas antecipadas de 15 (quinze) minutos, durante o curso de um mesmo mês, será contado como uma falta, podendo ser abonada se os mesmos forem compensados, em um só dia, na forma disposta no "caput" deste artigo.

§ 2º - As faltas abonadas e compensadas não serão descontadas do tempo de serviço.

Art. 20 - O professor que exercer atividade técnico-pedagógica de monitoramento da prática pedagógica docente deverá prestar parte de sua carga horária semanal em unidade de ensino.

TÍTULO IV

DOS DIREITOS, VANTAGENS E DEVERES

CAPÍTULO I

DIREITOS FUNDAMENTAIS

Art. 21 - Além dos direitos previstos nas normas gerais aplicáveis ao servidor público, são direitos específicos dos ocupantes dos cargos das carreiras do magistério:

I - perceber remuneração de acordo com o cargo para o qual foi nomeado o nível de formação, o tempo de serviço e o regime de trabalho;

II - participar de oportunidades de capacitação que auxiliem e estimulem a melhoria do seu desempenho profissional, propiciando a ampliação dos seus conhecimentos;

III - dispor, no ambiente de trabalho, de instalações e material didático-pedagógico suficiente e adequado e de informações educacionais e bibliográficas que permitam desempenhar com qualidade suas atribuições; IV - reunir-se no local e horário de trabalho para tratar de assuntos e interesse da educação e da profissão, desde que haja anuência prévia da chefia imediata;

V - afastar-se para formação continuada;

VI - participar de congressos, seminários, cursos e outros eventos referentes à educação;

VII - ter acesso a todo acervo legal e dados referentes a sua situação funcional e a organização profissional.

Art. 22 - Ao professor afastado de regência de classe por motivo de doença impeditiva ao exercício da função, comprovada por Junta Médica do Estado, serão assegurados todos os direitos e vantagens.

Parágrafo Único - O professor readaptado será lotado na função para a qual for designado a partir da publicação da portaria que assim o determinar, no órgão oficial de imprensa.

Art. 23 - Superado o motivo que der causa a readaptação de que trata o artigo anterior, o servidor reverterá ao exercício da regência de classe.

CAPÍTULO II

DAS FÉRIAS

Art. 24 - O professor vinculado ao Magistério Público gozará anualmente 30 (trinta) dias de férias.

Parágrafo Único - O período de férias dos professores lotados em escolas situadas em áreas caracterizadas pela sazonalidade da produção econômica atenderá as peculiaridades regionais.

Art. 25 - Fica garantido recesso escolar de 15 (quinze) dias, preferencialmente entre o primeiro e o segundo semestre de cada ano, a ser fixado pela Secretaria de Educação e Esportes do Estado de Pernambuco.

CAPÍTULO III

DA SUBSTITUIÇÃO

Art. 26 - O professor em regência de classe será substituído em suas faltas, impedimentos, licenças ou afastamentos por professor de igual ou superior habilitação, vinculado ao Magistério Público, que permanecerá apenas enquanto perdurar a situação que deu causa.

§ 1º - Em caso de falta ou impedimento inferior a 5 (cinco) dias consecutivos, o professor obriga-se a efetuar a compensação das aulas.

§ 2º - Tratando-se de falta, impedimento, licença ou afastamento por período igual ou superior a 5 (cinco) dias consecutivos, caberá a direção da escola e a Diretoria Executiva Regional de Educação, respectiva, efetuar a substituição.

§ 3º - Na impossibilidade de atender-se ao disposto no "caput" deste artigo, o professor em regência de classe poderá ser efetuado:

I - por professor contratado por prazo determinado;

II - por estagiário.

Art. 27 - Na hipótese da substituição de professor se dar por profissional contratado por tempo determinado ou estagiário, ficará esta limitada ao período máximo de 10 (dez) meses, vedada a renovação.

Parágrafo único - A contratação de professor por prazo determinado, em caso de excepcional interesse público, somente se fará através de processo seletivo simplificado, a ser regulamentado pelo Poder Público.

CAPÍTULO IV

DOS AFASTAMENTOS

Art. 28 - Ao professor será concedido afastamento sem prejuízo de seus vencimentos e vantagens, além dos assegurados pela legislação em vigor, para os seguintes fins:

I - participar de congressos, seminários, encontros, cursos, atividades sindicais e outros eventos relacionados a atividade docente ou técnico-pedagógica respectiva, desde que devidamente autorizado, segundo critérios definidos em regulamentação específica;

II - participar da diretoria e das instâncias de base do sindicato da categoria.

Parágrafo único - O professor afastado para participar de cursos reconhecidos pelo Poder Público fica obrigado, quando da sua conclusão, a permanecer em exercício no magistério público estadual por período idêntico ao do afastamento.

CAPÍTULO V

DA REMOÇÃO

Art. 29 - O professor poderá ser removido a pedido ou por necessidade do serviço.

Parágrafo único - A remoção do professor, a pedido, somente se efetivará no início de cada semestre letivo, ressalvados os casos excepcionais previstos em lei.

Art. 30 - A remoção do professor, a pedido, far-se-á segundo os seguintes critérios de prioridade:

I - ser o mais antigo no exercício do Magistério;

II - ser o mais antigo na escola;

III - ter residência mais próxima da unidade escolar solicitada;

IV - ser arrimo de família;

V - ser o mais idoso.

CAPÍTULO VI

DAS VANTAGENS

Art. 31 - Ao professor lotado em escolas situadas em locais definidos como de difícil acesso, fica assegurada gratificação de 40% (quarenta por cento) do vencimento base do cargo e classe inicial da carreira.

§ 1º - Serão definidas como escolas de difícil acesso, aquelas não servidas por transporte coletivo ou localizadas em áreas íngremes ou em logradouros distantes em mais de 1,5 km. (um quilometro e meio) dos corredores e vias de transportes coletivo.

a) na capital do Estado e municípios da Região Metropolitana: aquelas não servidas por transporte coletivo ou localizadas em áreas íngremes ou em logradouros distantes em mais de 1,5 km (um quilometro e meio) dos corredores e vias de transporte coletivo;

§ 2º - Ao professor localizado em escolas fora da Região Metropolitana do Recife, onde seja necessária a locomoção de um município para o outro, será garantido o mesmo percentual de gratificação previsto no caput deste artigo ainda que a escola não esteja classificada como de difícil acesso.

§ 3º - A Secretaria de Educação e Esportes publicará até 30 (trinta) de dezembro de cada ano letivo a relação das escolas consideradas de difícil acesso.

CAPÍTULO VII

DOS DEVERES

Art. 32 - São deveres do professor, além daqueles fixados no Estatuto dos Servidores Públicos Civis do Estado de Pernambuco:

I - conhecer a legislação educacional;

II - ensinar de forma atualizada os conteúdos curriculares definidos para cada nível de ensino;

III - respeitar ao aluno como sujeito principal do processo educativo e comprometer-se com o avanço do seu desenvolvimento e aprendizagem;

IV - acompanhar a produção de conhecimentos, de saberes e de bens culturais;

V - participar das diversas atividades inerentes ao processo educacional;

VI - empenhar-se na utilização de métodos educativos e democráticos que promovam o processo sócio-político-cultural da comunidade;

VII - comparecer ao trabalho com assiduidade e pontualidade, cumprindo responsavelmente suas funções;

VIII - atuar de forma coletiva e solidária com a comunidade; IX - lutar para que os objetivos da educação brasileira atendam aos interesses e necessidades da população;

X - contribuir para a construção de uma nova escola e uma nova sociedade.

TÍTULO V

DA CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL

Art. 33 - Será assegurado ao servidor integrante das carreiras do magistério público capacitação permanente e formação continuada na perspectiva de melhoria do seu desempenho profissional.

§ 1º - O Poder Executivo, através do órgão próprio estimulará a participação dos professores em cursos oferecidos por universidades ou outras instituições.

§ 2º - Os títulos obtidos em cursos de licenciatura plena e em cursos da pós-graduação "lato sensu" ou "stricto sensu", reconhecidos ou credenciados pelo Poder Público, serão requisitos de progressão vertical.

§ 3º - A produção científica dos professores será objeto de pontuação para fins de progressão e seleção interna, de acordo com regulamentação a ser editada pelo Poder Executivo.

Art. 34 - A capacitação em serviço será oferecida a todos os professores, como ação de reflexão e reconstrução coletiva e permanente da prática pedagógica e da atuação técnico-pedagogica nas diferentes áreas de intervenção educacional, cultural e esportiva.

Art. 35 - Será assegurada aos professores a participação na elaboração e avaliação dos planos plurianuais bem como nas propostas na área de capacitação e no estabelecimento de alternativas de intervenção técnico-pedagógica.

TÍTULO VI

DA APOSENTADORIA

Art. 36 - O professor será aposentado em conformidade com o que dispõe a Constituição da República, a Constituição do Estado de Pernambuco, o Estatuto dos Servidores Públicos de Pernambuco e a presente Lei.

Art. 37 - Os professores serão aposentados com proventos integrais a contar:

I - 25 (vinte e cinco) anos de efetivo exercício, se do sexo feminino, e 30 (trinta) anos, se do sexo masculino;

II- invalidez por acidente de trabalho, doença ou moléstia profissional, ou doença grave, contagiosa ou incurável, especificada em lei.

Art. 38 - O professor aposentado tem direito a assistência total do IPSEP - Instituto de Previdência do Servidor Público do Estado de Pernambuco.

TÍTULO VII

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS

CAPÍTULO I

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 39 - A partir da vigência desta Lei, o professor vinculado ao Magistério Público só poderá exercer funções nela definidas e enumeradas.

Art. 40 - Os servidores do Grupo Ocupacional do Magistério permanecerão nos cargos atualmente existentes, até que sejam enquadrados de acordo com critérios a serem estabelecidos em lei.

Art. 41 - O dia 15 de outubro ficará dedicado ao professor, sendo considerado, para aqueles que exercem os cargos que compõem as carreiras do magistério público, como feriado.

CAPÍTULO II

DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS

Art. 42 - A hora-aula do professor de qualquer das carreiras do magistério público, nas escolas que possuam turno intermediário, será de 40 (quarenta) minutos.

Art. 43 - Nas escolas da rede pública estadual de ensino o professor de pré-escola e do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série terá obrigatoriamente regime de trabalho de 150 (cento e cinquenta) horas-aula, sendo 20% (vinte por cento) de horas-aula atividade, enquanto perdurar a oferta de ensino em turno intermediário.

Art. 44 - Será admitido o desempenho de até 50% (cinquenta por cento), das horas atividades fora da escola, dos professores localizados em unidades de ensino em que não existam biblioteca, sala de professor e material didático-pedagógico.

Art. 45 - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 46 - Revogam-se as disposições em contrário.

PALÁCIO DO CAMPO DAS PRINCESAS, em 16 de JANEIRO de 1996. MIGUEL ARRAES DE ALENCAR Governador do Estado SILKE WEBER

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Psicologia Ambiental

Psicologia Ambiental: Concepções e Métodos de Trabalho

Detalhes

Escrito por Edlane Leal dos Santos, sob orientação de Anderson Chalhub | Publicado em Sexta, 06 Janeiro 2012 13:07

Resumo: Este estudo é um trabalho investigativo e exploratório sobre a Psicologia Ambiental, uma disciplina que tem como objetivo compreender a relação pessoa-ambiente, mas apesar de sua relevância ainda é um campo de estudos pouco disseminado no meio acadêmico no Brasil. Através de um estudo bibliográfico, será apresentado um pouco da história de seu surgimento, conceitos, objetos de estudo e possibilidades de atuação do psicólogo nesta área. Foi exposta uma síntese de alguns trabalhos já realizados em Psicologia Ambiental que analisaram a interação de crianças, adolescentes e idosos com ambiente institucional, a interação pessoa com ambiente urbano, entre outros, demonstrando a utilidade da disciplina no estudo da relação pessoa-ambiente como forma de promoção do bem-estar e busca da sustentabilidade. Sendo o ambiente, espaço produtor de desenvolvimento psicológico, emocional, pessoal, profissional e o comportamento, produto da interação do homem com o meio, a inclusão da Psicologia Ambiental no meio acadêmico se mostra bastante interessante, visto que o trabalho do psicólogo estará sendo influenciado pela estrutura física do ambiente em que seu cliente está inserido, sendo este também afetado pelas condições do espaço objetivo e vivenciado. Palavras-chave: Psicologia Ambiental; Ambiente; Método de Trabalho.

Introdução

Desde 1750, a população mundial tem crescido de forma acelerada, tendo nos últimos cinquenta anos um aumento de 2,5 bilhões de habitantes para 6 bilhões. O represamento dos rios, o uso da água, o consumo de fertilizantes, a população urbana, o consumo de papel e a quantidade de veículos a motor aumentaram expressivamente sem indícios de que haverá uma inversão desse crescimento. Em paralelo, a natureza está mudando com o aquecimento global, a destruição da camada de ozônio, a quantidade de desastres naturais, a destruição acelerada das florestas tropicais e das regiões florestais e a extinção de uma variedade de espécies. Enfim, essas mudanças nas condições ambientais indicam que as atividades humanas podem promover mudanças bruscas no sistema planetário, com consequências ainda vagas (BERTÉ, 2009).

Diante da crise ambiental que hoje se tem notícia, vários setores sociais estão se mobilizando, possibilitando uma maior conscientização ambiental e fazendo com que as pessoas se preocupem mais com a preservação do meio ambiente. Lima (1998, p. 139-154) afirma que:

Entre as décadas de 70 e 80, tornou-se frequente a criação de secretarias, ministérios, agências especializadas, organismos plurinacionais e partidos políticos envolvidos com a questão ambiental. O setor privado tem se preocupado em introduzir em seus produtos e estratégias mercadológicas o "apelo verde", mesmo que de maneira enganadora e superficial, porque já detectou na opinião pública e consumidora o interesse por esta nova tendência. A preocupação ecológica se faz presente também na sociedade civil e setores religiosos, cresce o número de publicações ou de seções ecológicas em jornais, revistas e demais meios. As Universidades, apesar da dificuldade em superar suas barreiras disciplinares, introduzem o debate ambiental, ampliam o leque de suas possíveis abordagens e discutem propostas transdisciplinares.

É bastante adequado considerar que a ação humana pode fazer a diferença, podendo mudar a maneira de pensar o mundo, sendo necessário assumir riscos consideráveis em tentar modificar o estado atual e em defender uma alteração significativa na maneira pela qual as coisas são feitas. Quando os indivíduos atuam, demonstram interesses dos setores da sociedade em que são participantes e até podem superar suas origens passando a representar interesses dos menos sucedidos, social, economica e politicamente. Segundo Moran (2008), uma característica da ação humana parece ser a necessidade de acumular informações por um período de tempo, criando uma preocupação em certos setores e em ação por parte de alguns indivíduos, que associada a um evento importante, resulta em mobilização muito rápida e atuação efetiva, como no caso da adoção imediata do Protocolo de Montreal para redução do uso dos clorofluorcarbonetos (CFCs), responsáveis pela destruição da camada de ozônio.

O homem está a todo o momento em constante interação com o ambiente que o cerca, seja ele organizacional, educacional, urbano ou ecológico e por ser a psicologia a ciência que tem como objeto de estudo o comportamento, por que não uma subárea para investigar o homem e o ambiente, com uma atenção especial a interação entre os dois? Portanto, pouco difundida no Brasil, mas de grande relevância, Moser (1998, p.121) diz que a:

Psicologia Ambiental estuda a pessoa em seu contexto, tendo como tema central as "inter-relações" – e não somente as relações – entre a pessoa e o meio ambiente físico e social.

A Psicologia Ambiental tem por objetivo analisar as formas como as condições ambientais afetam as capacidades cognitivas, mobilizando os comportamentos sociais que causam impacto à saúde mental dos indivíduos, além de contribuir para análise das percepções e interpretações das pessoas sobre o meio ambiente. Ela pode trabalhar com outras áreas de conhecimento de forma interdisciplinar, como sociologia e antropologia urbana, ergonomia, desenho industrial, paisagismo, engenharia florestal, biologia, medicina, arquitetura, urbanismo e geografia, entre outras. E a sua abordagem metodológica, vai ser direcionada através do problema, sendo muitos deles beneficiados por uma pluralidade de métodos como observacionais, experimentais, entre outros. Utiliza o modelo pesquisa-ação, na qual o pesquisador tenta contribuir para teoria e prática na sua área (GÜNTHER. e ROZESTRATEN, 2004).

Definir a Psicologia Ambiental como um campo de estudos dentro da Psicologia,é possibilitar a compreensão de como o indivíduo reage às condições do ambiente; poder avaliar e perceber que os espaços físicos também vão influenciar na maneira de atuar das pessoas, pois se interage diferentemente dependendo do local; entender conceitos como:espaço pessoal, dimensão temporal ou projeção no futuro e referência ao passado, à história; poder também ver como o indivíduo se comporta no ambiente em que vive com o surgimento de doenças, enfim, perceber que o psicólogo pode atuar em vários campos e de forma multidisciplinar, no sentido em que os problemas ambientais são tão complexos que costumam exigir uma abordagem a partir de diferentes visões, necessitando uma colaboração interdisciplinar (WIESENFELD, 2005).

Descrevendo o processo histórico da Psicologia Ambiental, definindo a disciplina e seus objetos de estudo e apresentando possibilidades de atuação do psicólogo na área, este estudo permitirá o conhecimento de um "novo" campo da Psicologia ainda pouco disseminado na academia, mas que diante das atuais crises ambientais torna-se essencial para entender e melhorar os impactos da relação do homem com o ambiente, sendo ele natural ou construído. Contribuirá para a Psicologia por ser a ciência que estuda o comportamento humano, permitindo uma compreensão dos processos de conscientização ambiental, a percepção das pessoas frente ao meio ambiente e as atitudes relacionadas à preservação ou degradação diante do cenário atual.

A Psicologia Ambiental é também uma grande responsável para a melhoria tanto na edificação quanto na conservação dos espaços, beneficiando o convívio entre as pessoas, seja no ambiente familiar, educacional, organizacional ou urbano, pois conforme Morval (2007), o ambiente além de ser o cenário das nossas vidas, representa um estímulo abarcante e ao mesmo tempo avassalador, mas também insondável e misterioso, pois ainda temos dele uma representação que parece ser, em muitos aspectos, confusa e subjetiva.

Realizou-se um estudo bibliográfico, que segundo Demo (2000) é destinado a reconstruir teorias, conceitos, ideias, ideologias aprimorando fundamentos teóricos e/ou práticas, já que o assunto abordado não pode ser mensurado. A partir de palavras-chave como Psicologia; Psicologia Ambiental e Ambiente, livros, textos, artigos e periódicos científicos considerados pertinentes foram selecionados, de modo sistemático e reconstrutivo, encontrados em fontes de dados e pesquisas como Scielo, o Laboratório de Psicologia Ambiental da Universidade de Brasília, REPALA -Rede de Psicologia Ambiental Latino-Americana e o Grupo de Estudos Inter-Ações Pessoa-Ambiente da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Buscou-se as referências bibliográficas indicadas nos documentos encontrados, dando um melhor embasamento na pesquisa, enfatizando conceitos e história da Psicologia Ambiental. Após dados coletados com um olhar crítico, a fim de evitar informações confusas que venham prejudicar a pesquisa, construiu-se um quadro conceitual oportunizando a visualização do que os diversos autores dizem sobre a Psicologia Ambiental, distinguindo diferenças e semelhanças sobre sua definição e objeto de estudo.

Um Pouco de História da Psicologia Ambiental

Psicologia Ecológica ou Psicologia Ambiental? Roger Garlock Barker, aluno, colaborador e assistente de pesquisa de Kurt Lewin, desenvolveu a Psicologia Ecológica, após perceber que havia algo além do modelo de espaço vital de Lewin – onde o ambiente é aceito como campo subjetivo. Interessado em pesquisar sobre a organização dos acontecimentos públicos da vida diária, Barker e seus colaboradores observaram crianças em suas condições naturais, concluindo que as ações eram influenciadas pelos contextos, ou seja, o comportamento era diferente em cada contexto, denominando behavior setting. Portanto, o termo Psicologia Ecológica em países de idioma germânico se refere atualmente, ao modelo barkeriano com seus avanços, e o mesmo que nos países de idioma alemão, o correspondente a Psicologia Ambiental anglo-americana (CARNEIRO e BINDÉ, 1997; PINHEIRO, 1997).

Em 1943, foi a primeira vez que a terminação Psicologia Ambiental foi utilizada, por Egon Brunswik, psicólogo e PhD pela Universidade de Viena, que realizou pesquisa empírica sobre percepção, e também trouxe a sua abordagem probabilística para tolerar os problemas da percepção interpessoal, raciocínio, aprendizagem e psicologia clínica; ele se importava com estudos na área da psicologia sobre representatividade do design (ALVES e BASSANI, 2008). Sendo ele também responsável pelo conceito de validação ecológica, ou seja, um problema só é válido para ser pesquisado se tiver significância na vida cotidiana dos indivíduos estudados (GÜNTHER, PINHEIRO e GUZZO, 2004).

Na década de 70 do século passado, surgem pesquisas sobre relações entre seres humanos, ambiente físico e problemas ambientais, mas ainda não consideravam a influência mútua entre pessoa e ambiente, é quando a Psicologia Ambiental ganha o caráter de disciplina. Na década de 80, surgem os cursos universitários, firmando a área e, na década de 90, a Psicologia Ambiental passa por uma reestruturação averiguando formas de melhoria da qualidade de vida das pessoas em seu ambiente sócio-físico (FERREIRA, 2004; FREIRE e VIEIRA, 2006). Segundo Moser (2005), a Psicologia Ambiental criou conceitos como cognição ambiental, mapeamento mental, história residencial, identidade ambiental, percepção de aglomeração, etc. e, por isso, é uma disciplina e não apenas um ramo da Psicologia.

Possuindo uma"dupla-personalidade": Psicologia e Ambiente, a Psicologia Ambiental formou-se a partir de duas grandes raízes teóricas. A externa, formada por disciplinas distantes da Psicologia: Arquitetura e Planejamento Ambiental, Geografia e Ciências Bio/Ecológicas e também uma crescente preocupação das ciências naturais pelos problemas ambientais e o papel desempenhado pelo ser humano nesse contexto. E, a interna que surgiu a partir do interesse de compreender melhor o inter-relacionamento entre processos psicológicos e aspectos do ambiente, envolvendo a Psicologia da Percepção (Gestalt) e a Psicologia Social (PINHEIRO, 1997; GUNTHER e ROZESTRATEN, 2004). E, ainda segundo Gunther e Rozestraten (2004, p.4):

(...) é importante salientar que um dos aspectos que distingue a psicologia ambiental das suas raízes, e que constitui um dos elos entre suas vertentes: a atenção ao lugar, i.e., a localização do indivíduo diante dos elementos do seu ambiente.

Os primeiros estudos realizados pela Psicologia Ambiental abarcaram o tema da degradação ambiental que se acreditava ter uma relação com o crescimento populacional e o planejamento de ambientes construídos, pois após a II Guerra Mundial, vários países se preocuparam com a reconstrução de espaços de habitação e convivência social, inclusive setores psiquiátricos de hospitais, sendo os psicólogos solicitados por engenheiros e arquitetos. Este foi o primeiro momento em que se verifica uma preocupação pelo bem estar das pessoas em relação ao ambiente que se ocupa (FERREIRA, 2004; RIVLIN, 2003).

Autores nos Estados Unidos deram contribuições consideráveis para o firmamento da Psicologia Ambiental como Irwin Altman um dos precursores da pesquisa ambiental que desenvolveu a teoria da regulação da intimidade; Daniel Stokols ponderou o impacto da superpopulação em um espaço restrito sobre as atitudes individuais; Kenneth Craik propôs teorias para abordar e compreender as relações entre personalidade e ambiente; J. Russel e L. Ward fizeram o inventário dos progressos no domínio da psicologia ambiental na Annual Review of Psychology (Revisão Anual de Psicologia). Na França, A. Moles desenvolveu conceito de espaço; Perla Serfaty-Garzon contribuiu com a compreensão do espaço privado e público e espaço íntimo da casa; Gustave-Nicolas Eischer propôs uma análise do espaço industrial e avaliação ambiental do espaço de trabalho (MORVAL, 2007).

O desenvolvimento da Psicologia Ambiental em território brasileiro ocorre em paralelo a eventos em outros países, devido a formação de muitos profissionais terem sido no exterior e/ou manter contato com instituições através de congressos internacionais. Foi criada em 2001 a Rede de Psicologia Ambiental Latino-Americana (REPALA), composta por um site (http://www.cchla.ufrn.br/repala/home.html) e uma lista de discussão reunindo profissionais e estudantes de diversas áreas e vários países com objetivo de trocar informações (PINHEIRO, 2003).

No Brasil, em 1990 no Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília foi utilizada pela primeira vez a denominação Laboratório de Psicologia Ambiental (LPA), coordenado atualmente pelo Prof. Hartmut Günther, voltado para estudos sobre técnicas e métodos de pesquisa, tendo como campo principal a cidade de Brasília. Foi criado o Laboratório de Psicologia Sócio-Ambiental e Intervenção da USP (LAPSI) e, junto com a International Association People-Environment Studies (Associação Internacional para Estudos Pessoa-Ambiente) -IAPS, realizaram encontros com vários representantes da área e afins, possibilitando apresentação de trabalhos, contribuindo para a divulgação do campo de estudos em território nacional.

Após este relato histórico, é necessário delimitar conceitualmente a Psicologia Ambiental mencionando sobre os seus objetos de estudo enquanto disciplina que determinaram o campo de atuação para psicólogos, já que a complexidade dos problemas ambientais exige muitas vezes uma colaboração de outras disciplinas, trabalhando de forma multidisciplinar.

Conceitos da Psicologia Ambiental e seus Objetos de Estudo

Morval (2007, p.23) diz que a "Psicologia Ambiental, se desenha gradualmente como sendo oestudo das trocas entre as pessoas, osgrupos e o meionatural, social e construído". Wiesenfeld (2005, p. 54)define como "a disciplina que estuda as transações entre as pessoas e seus entornos, com vistas a promover uma relação harmônica entre ambos, que redunde no bem-estar humano e na sustentabilidade ambiental". Pode-se concluir que o foco principal de estudo da Psicologia Ambiental é a influência da pessoa para o ambiente e vice-versa, visando melhores condições de vida, sendo assim confirmado pela equação de Kurt Lewin, criador dos termos ecologia psicológica e espaço vital, C = f (P x A), onde o ambiente (A) determinando o comportamento (C) é confrontado pela constante interação (x) entre pessoa (P) e ambiente, influenciando-se mutuamente.

Bowlby (1990) explica que para considerar a estrutura de um sistema, o meio ambiente em que ele funciona também deve ser considerado, pois o homem possui grande capacidade para modificar seu ambiente e ajustá-lo às suas necessidades, transformando em ambiente subjetivo, ele se adapta e faz adaptações, modifica o ambiente. Tassara e Rabinovich (2003, p. 340) comentam sobre um dos objetos da discussão entre os interessados pela área, dizendo que:

O ambiente objetivo não é o ambiente do sujeito, mas o substrato de como o ambiente vai se tornar algo do sujeito. Trata-se de analisar a construção da subjetividade em seu aporte material: como, de que forma, porque o ambiente objetivo se constitui em ambiente subjetivo, o que não distingue, portanto, a PA da Psicologia Social.

Bronfenbrenner (1996) traz em sua Teoria Ecológica do Desenvolvimento Humano, uma classificação de ambiente ecológico dividido em quatro sistemas, com um enfoque psicossocial, no qual o homem se relaciona e evolui: no microssistema as relações interpessoais são dadas face-a-face, a pessoa é participante e possui papéis sociais (casa, escola, trabalho); o meso e exossistemas consistem nos processos que ocorrem entre dois ou mais contextos, sendo que no primeiro a pessoa está inserida em todos e no segundo, ao menos em um deles a pessoa em desenvolvimento não participa, mas sofre influências; o macrossistema comporta características dos sistemas mais amplos como, cultura, economia, educação, política, etc. e seus efeitos são indiretos, ou seja, se manifestam através das interações da pessoa nos vários microssistemas que circula.

Semelhante a definição de Bronfenbrenner, porém com uma visão mais espacial e social, Moser (2005) classifica o espaço, também em quatro níveis, sendo: nível individual ou micro-ambiente: residência, implicando o indivíduo; nível da vizinhança-comunidade ou ambientes de proximidade: espaços semi-públicos (bairro, local de trabalho, parques, etc.); nível indivíduo-comunidade ou ambientes coletivos públicos: cidades, espaços intermediários, povoamentos diversos; nível social ou ambiente global: ambiente em sua totalidade, construído ou não, os recursos naturais e os referentes à sociedade enquanto tal.

Altman (apud Morval, 2007), identificou três tipos de territórios que correspondem aos ambientes discutidos pelos autores acima, porém ele atribui um sentido de grau de intimidade e controle por parte do indivíduo em relação ao espaço: territórios primários, a casa ou escritório particular, personalizados de forma que revelam a identidade individual ou do grupo; territórios secundários, menos exclusivos como um barzinho que por vezes aparecem clientes estranhos aos usuários habituais; territórios públicos, espaços abertos como praias, parques, etc., proporcionam pouca intimidade. Classificações do ambiente como as citadas, tornam-se fundamentais para um planejamento teórico e melhor estudo da relação homem-ambiente, já que o ambiente propicia o sentido e a identidade, posicionando o indivíduo social, econômica e culturalmente.

E o indivíduo que a Psicologia Ambiental considera, segundo Bassani, Silveira e Ferraz (2003, p.1694), é "o ser humanoconcreto, com umahistória de vida, umcontexto cultural, dotadode cognição e afetos, com identidade social e individual", concordando com Bronfenbrenner (1996), que caracteriza a pessoa como organismo biopsicológico complexo, em crescimento e atuante, composto por um sistema integrado (cognição, social, afetividade, emoção, motivação) que interagem mutuamente. Assim, a Psicologia Ambiental não tem como objetivo a resolução dos problemas ambientais e sim a crise das pessoas no ambiente (PINHEIRO, 1997). Parafraseando Rodriguez (1997, p.27):

Una de las expresiones más equívocas en los discursos sobre la crisis ecológica es la de "problemas ambientales". En realidad se trata de "problemas-de-la-humanidad", y, por ende, del comportamiento humano. Son los comportamientos de las personas los que provocan un incremento de la gravedad de un problema ambiental; y es sobre la vida de las personas sobre las que influye la alteración de un parámetro ambiental.

Observando algumas definições sobre o ambiente e o indivíduo, conclui-se que um não existe sem o outro e por isso, torna-se importante analisar como o indivíduo percebe o ambiente que vive e como este influencia seu comportamento e de que forma este contribui para seu desenvolvimento. O ambiente deve ser um abrigo que protege e dá segurança contra agentes exteriores; filtra qualidade e número de contatos sociais; transmite cultura, valores e interesses pessoais; tem a função de proporcionar prazer e desenvolvimento, dependendo da disposição da pessoa no momento e das experiências que favorecem a aprendizagem de novas habilidades (MORVAL, 2007).

O psicólogo ambiental trabalha com a percepção ambiental, estudo do ambiente físico com sua dimensão social e aspectos funcionais, enfoque da inter-relação e inter-dependência pessoa-ambiente como conceitualmente distinto da ação isolada de seus componentes sobre o comportamento (visão bidirecional), flexibilidade no emprego de níveis variados de análise, variabilidade da escala espacial, escalas temporal e ambiental, conhecimento psicológico sobre o desenvolvimento humano, etc., ou seja, o profissional precisa de uma bagagem de instrumentos visto que a variedade de aspectos que devem ser considerados no estudo da interação pessoa-ambiente é muito extensa (PINHEIRO, 1997).

Alguns conceitos básicos são importantes na Psicologia Ambiental como: espaço pessoal que é o que rodeia o corpo do indivíduo, sendo este o responsável por controlar acesso de outros, é o espaço que dá origem as interações do dia a dia; regulação da intimidade é a manutenção de um nível ideal de contatos sociais, com relação ao tempo e circunstâncias; comportamento territorial é a quando a decoração do ambiente reflete a personalidade dos ocupantes e afirma um controle, indicando posição hierárquica e tempo de permanência; competência ambiental abrange satisfação e motivação pessoal diante de uma ação no meio ambiente; responsabilidade ecológica são comportamentos dos cidadãos que visam a manutenção do equilíbrio ecológico (MORVAL, 2007).

Existem três maneiras de funcionamento na psicologia ambiental que remetem a prática profissional segundo Moser (2005), a acadêmica que se preocupa com a sistematização dos conhecimentos referentes à relação indivíduo-ambiente; a ligada à demanda social, tendo um caráter de investigação, funciona na área de pesquisa aplicada; e uma engenharia sócio-ambiental, que é a parte da pesquisa orientada, preocupada em acompanhar as mudanças introduzidas. Sendo uma disciplina multimétodos e não tendo uma teoria específica em que possa se apoiar, possibilidades de ação deste profissional serão descritas a seguir.

Possibilidades de Atuação do Psicólogo

O ambiente é o campo de trocas cotidiana, cenário de vidas, estímulo complexo com aspectos confuso e subjetivo e por isso, são necessários estudos para que o ser humano possa aproveitar melhor o meio ambiente, não degradando tanto e permitindo que outras gerações usufruam desse espaço. Segundo Pinheiro (1997), a Psicologia Ambiental se interessa por compreender a interação do homem com seu ambiente para desenvolver estratégias e ferramentas de aplicação e intervenção que contribuam para a mudança dessa relação de forma mais consciente.

Será possível encontrar estudos com a mesma problemática, referente a um mesmo contexto, porém com abordagem metodológica diferente e isso, sendo determinado pelo profissional e/ou demanda do contexto, refletindo a riqueza do objeto da disciplina (EVANS, 2005). Apesar de cada profissional ter a sua maneira de ver o mundo, seguir uma determinada teoria e metodologia, de acordo com seus interesses pessoais e/ou profissionais, todo estudo em psicologia ambiental estará voltado exclusivamente para a relação pessoa-ambiente, e Wiesenfeld (2005, p.55) classifica como objetivos desta disciplina:

Estudar a relação pessoa-ambiente no contexto natural, vista como totalidade (ontologia), abordar a dita relação de maneira holística (metodologia), incorporar diversas perspectivas teóricas em seu estudo (epistemologia), enfatizar a dimensão social da relação humano ambiental, estabelecer vínculos com outras disciplinas interessadas na temática humano ambiental (interdisciplinaridade), aplicar os conhecimentos obtidos para melhorar a qualidade ambiental e, por conseguinte, a qualidade de vida dos usuários dos ambientes (pertinência social).

Visto a multiplicidade metodológica para estudar a interação homem-ambiente, torna se necessário definir métodos para coleta de dados e técnicas que serão utilizadas, dando uma ênfase para o conhecimento prévio da temática, quantificação do tempo e recursosdisponíveis. E segundo Gunther, Elali e Pinheiro (2004, p.3) "a maneira mais comum de lidar com as múltiplas abordagens, teorias e métodos numa área como a dos EPA é fazer referência à necessidade de um tratamento inter-, multi-e/ou transdisciplinar (IMT) dos temas por ela trabalhados". Fedrizzi e Tomasini (2008, p. 320-321) definem abaixo estes termos bastante utilizados na psicologia ambiental:

Multidisciplinaridade: configura uma situação em que diversas disciplinas se envolvem, porém, sem a ocorrência das suas respectivas interações; Interdisciplinaridade: aqui, as interações e a coordenação se definem pela natureza da complexidade do problema em questão; Transdisciplinaridade: finalmente, nesse caso, as interações não se fazem somente entre disciplinas, mas também entre os diferentes atores sociais envolvidos, sejam eles, os planejadores, os administradores e as populações locais.

Quanto à necessidade do trabalho interdisciplinar, Pinheiro (2005) faz um comentário sobre uma de suas experiências, onde após um"passeio ambiental" pela cidade de São Paulo, realizou uma avaliação e apenas um dos participantes mencionou a presença de pessoas no ambiente, as outras só se referiram a aspectos físicos. O mais interessante, é que não foi um psicólogo e sim uma arquiteta, confirmando a importância de diversas disciplinas darem as mãos e trabalharem unidas nos estudos pessoa-ambiente.

A maior parte das publicações se refere a questões de degradação ambiental, mas a disciplina não se resume somente a isso, mesmo sendo um problema complexo e de grande relevância. Ferreira (2004) apresenta alguns exemplos de estudos e intervenção na área, como: planejamento de edifícios (hospitais, casas, etc.), planejamento e avaliação de equipamentos urbanos (ciclovias, trens, etc.), tratamento de resíduos sólidos, consequências de desastres naturais, impacto de diferentes tipos de ambientes sobre populações específicas, relações de vizinhança, reações de pessoas vivendo situações extremas (cápsulas espaciais, estações isoladas), percepção e avaliação ambientais e enfrentamento de mudanças repentinas nas condições de vida.

Estudos são realizados para avaliar a influência de fatores de estresse ambientais, como o ruído, o calor, a poluição e a multidão que causam efeitos sobre o comportamento social (agressividade, ansiedade, perturbações do sono, etc.). A exposição prolongada ao barulho pode causar atraso no desenvolvimento de crianças, já que afeta a concentração intelectual e motivação durante a aprendizagem, e também pode provocar desequilíbrio psicocorporal nas pessoas, por exemplo, trabalhadores de fábricas barulhentas; o calor também é um grande provocador de prejuízos, estudos realizados em laboratório, onde pessoas eram expostas ao calor, concluíram que as relações sociais são menos positivas, menos hábeis e mais tensas quando a temperatura está muito alta (MORVAL, 2007).

Algumas das técnicas utilizadas em estudos pessoa-ambiente são: o auto-relato, questionários e entrevistas, porém todas apresentam limitações. A entrevista, de acordo com Günther (2008, p.64) "salienta a relevância da dimensão físico/espacial do ambiente, integrante de experiências e ações humanas nos níveis intrapessoal e interpessoal, grupal e intergrupal", envolve aspectos doambiente e permite a investigação de respostas variadas em/ou sobre diferentes ambientes, pois o pesquisador terá a possibilidade de saber sobre a percepção que o indivíduo tem do ambiente físico, o que ele vê, escuta ou cheira. Apresenta como limitações, o tempo exigido, os custos e as habilidades sociais do entrevistador. Evans (2005) fala que é importante analisar o ambiente físico objetivo e o contexto sócio-cultural que afeta o mundo e tem passado despercebido nos estudos de Psicologia Ambiental, o que poderá influenciar os resultados de pesquisa.

Quando o pesquisador procura saber sobre a percepção que o indivíduo tem do ambiente, ele está se referindo a percepção ambiental que é a apreensão da realidade externa, o ponto de vista que o indivíduo tem de seu entorno e o vínculo que ele estabelece. Conhecendo a percepção do indivíduo é possível produzir espaços que promovam satisfação e bem estar e até fazer intervenções bem sucedidas. São utilizados alguns instrumentos como, um conjunto de fotografias que simulam os espaços que se quer avaliar e um de adjetivos (diferencial semântico), a fim de verificar, principalmente, emoções que a imagem desperta (CAVALCANTE e MACIEL, 2008).

Gomes, Cavalcante e Grinfeld (2007) realizaram um estudo na cidade de Fortaleza, usando fotografias de 33 salas de espera de consultórios e clínicas odontológicas sendo apresentadas a 152 pessoas de ambos os sexos na faixa etária entre 18 e 47 anos, com escolaridade média e superior, distribuídos em dois grupos experimentais, os que sabiam e os que não sabiam que eram fotos de sala de espera de dentista. Foi analisada a percepção da sala de espera (espaço físico, tamanho, decoração, iluminação, ruído), o tipo de interação que pode ocorrer e o tempo de espera, relacionados ao medo manifesto pelas pessoas no atendimento odontológico. Foi utilizado, também, o diferencial semântico com quinze pares de adjetivos para avaliar espaços (grau de ordem/desordem; segurança/insegurança; impacto emocional) e ao final, uma entrevista com todos os participantes.

Os objetivos do estudo foram compreender como os pacientes percebem a sala de espera do dentista, e dentre os significados atribuídos, quais os mais comuns e se permanecem constantes ou se alteram. Sendo este espaço avaliado negativamente pela maioria dos participantes, visto que a permanência nele vem sempre atrelada a algum sofrimento, como tempo de espera, vivências desagradáveis (tamanho do espaço, odores, etc.) e a padronização dos ambientes que não dão oportunidade de variação dos comportamentos de quem ali permanecem por um tempo. Os autores fizeram algumas propostas para minimizar os efeitos negativos que a estadia na sala de espera traz: diminuição do tempo de espera; opções de passatempo nesse ambiente e melhor acolhimento e, orientação na academia junto aos profissionais de odontologia quanto a importância deste espaço, visto que cada pessoa dá um significado diferente e não se está nele por simples querer, mas por estar a espera de algo (GOMES, CAVALCANTE, GRINFELD, 2007).

Na técnica de auto-relato, as pessoas normalmente falam de seus desejos, acarretando em influência na pesquisa, por isso a observação é o método mais utilizado na área como meio de investigação da relação homem-ambiente, sendo aprovado por precursores da abordagem ecológica como Roger Barker e Urie Bronfenbrenner (PINHEIRO, ELALI e FERNANDES, 2008). Outras técnicas utilizadas são vestígios ambientais da ação humana (arqueologia do comportamento) que permitem analisar sinais ou marcas de ocupações, e mapeamento comportamental, a representação gráfica das localizações e comportamentos do indivíduo no espaço, por meio de observação in loco.

Di Castro (2005), objetivando analisar o cotidiano urbano e como agem as pessoas em um espaço limitado, realizou um estudo em elevadores de um shopping de Brasília no horário matutino (movimentação menor de usuários). Dividido em três etapas: estudo piloto para verificar comportamentos mais frequentes e suas implicações, entrevistas e observação participante de comportamentos de olhar, motores e verbais, sendo as duas primeiras fases consideradas insatisfatórias para o objetivo do estudo por constituírem anotações aleatórias sem embasamento teórico. Hipóteses levantadas foram confirmadas como, por exemplo, o espaço pessoal da mulher que é menor que do homem, ou seja, as mulheres ficam mais próximas de estranhos do que os homens e por isso, estes são mais susceptíveis ao apinhamento (desconforto por falta de privacidade).

Outro exemplo de uso do método de observação é um estudo que objetivou analisar a frequência de comportamentos inadequados (parar fora do ponto, não parar para desembarque, mover veículo antes do desembarque total, trafegar com portas abertas, avançar semáforo e excesso de velocidade) de um motorista de ônibus urbano em Brasília com relação a imprevistos que causavam paradas do veículo (passageiros ou trânsito). Concluiu-se que eventos do trânsito podem afetar o desempenho do profissional e causar estresse, pois estes tem uma probabilidade menor de controle por parte do motorista. Esse tipo de estudo, ajuda na elaboração de projetos para melhorias no trânsito que possam afetar de forma positiva a qualidade do ambiente de trabalho dos motoristas de ônibus (SILVA e GÜNTHER, 2005).

A Psicologia Ambiental trabalhando em conjunto com a Psicologia do Trânsito para analisar o comportamento de pedestres e motoristas no trânsito, poderá auxiliar outros profissionais em busca de redução de danos nesse ambiente, como: desenhista industrial, engenheiro mecânico e ergonomista para estudar veículos; urbanistas e engenheiro do trânsito para avaliar as vias; legislador para estudar, avaliar e propor regras de trânsito. O mais importante é realizar estudos, avaliações e propostas sempre integrando indivíduo, trânsito e regras sociais para evitar comportamentos inadequados que venham causar eventos desagradáveis (GÜNTHER, 2001).

O questionário, principal instrumento para levantamento de dados por amostragem, permite coletar informações das pessoas sobre suas ideias, sentimentos, planos, crenças e status social, educacional e econômico. Pode ser aplicado individualmente ou em grupo, por telefone ou correspondência (GÜNTHER, 2008). Para utilização desse instrumento o profissional precisa definir previamente o objetivo da pesquisa para poder determinar a população alvo, estando atento para o contexto social e cultural, a estrutura lógica das questões e a relevância da pesquisa que fará ou não o público escolhido responder.

A educação ambiental tem como objetivo promover consciência ecológica para que os cidadãos sejam capazes de refletir sobre o por que de fazer algo e não somente, como fazer, ou seja, uma educação para o meio ambiente. Daí a psicologia ambiental irá dar sua contribuição ajudando ao indivíduo a refletir sobre sua atuação no ambiente, mudando o comportamento e construindo valores, assim a prática da educação ambiental não fica reduzida a resolução de problemas ambientais locais, mas a transformação e conscientização dos participantes (LAYRARGUES, 1999) e para isso acontecer, a metodologia adotada é a pesquisa-ação (SOMMER e AMICK, 2003) que contribui tanto com teoria quanto com prática, podendo gerar uma sociedade sustentável.

Sustentabilidade significa a "responsabilidade na utilização dosrecursos naturais e humanos,garantindo oequilíbrio da atual e das futuras gerações" (FEDRIZZI e TOMASINI, 2008, p. 315), isto implica mudança na relação homem-ambiente em busca de melhores condições de saúde, ou seja, um dos objetivos da psicologia ambiental. Para que ocorra a mudança, ambientes devem ser projetados envolvendo arquitetos, engenheiros, paisagistas, urbanistas, etc. confirmando mais uma vez a necessidade do trabalho interdisciplinar.

Campos-de-Carvalho e Padovani (2000) observaram dois grupos de crianças entre dois e três anos e suas respectivas educadoras (uma em cada), de duas creches em Ribeirão Preto SP que atendem famílias de baixa renda, a fim de verificar como o ambiente influencia na formação de agrupamentos de crianças. Foram feitas análises estatísticas, mostrando que a estrutura do espaço favorece agrupamentos e quando próximas, as crianças participam mais de atividades compartilhadas, concluindo que ao planejar ambientes infantis coletivos é importante levar em conta o arranjo espacial com zonas circunscritas, favorecendo a interação entre crianças e educadora.

Agostinho (2003) realizou pesquisa para analisar os espaços físicos, suas configurações e classificação de uma creche da rede pública de Florianópolis, observando crianças de zero a seis anos para saber sobre a forma infantil de perceber, relacionar e viver no espaço físico das instituições, objetivando implementação de uma Pedagogia da Educação Infantil. Foi utilizado para coleta de dados: fotografias, observação-participante e entrevistas com profissionais e famílias, sendo os resultados analisados com base na arquitetura, antropologia, geografia, história, sociologia e psicologia. Observou-se que as crianças usam a creche como um lugar de movimento, de brincadeiras, relações com outras crianças e adultos, buscam privacidade/individualidade e como passam em média 12 horas por dia, mesmo sendo construções padronizadas, as crianças constroem o espaço, dando significados e novos sentidos.

Os dois estudos citados acima, concordam que a estruturação do espaço físico da creche promove a interação crianças-educadores. Apesar de, no caso das instituições públicas, apresentarem uma padronização, esses espaços se tornam diferentes, pois a decoração, arrumação dos móveis, disposição dos brinquedos e etc., acabam dando um diferencial demonstrando a identidade de cada grupo. A necessidade de transformar a creche em um lugar aconchegante, acolhedor e que promova segurança, também é importante para o desenvolvimento da criança, já que elas passam uma grande parte do dia longe de seus familiares, mais ainda na primeira infância, fase em que se está conhecendo o mundo. A aproximação da criança com o ambiente promove uma atitude de respeito e cuidado com o mesmo, sendo uma iniciativa na incorporação da ideia de sustentabilidade.

Dentre 41 escolas que oferecem educação infantil na cidade de Natal -RN, cinco foram escolhidas por Elali (2003), para realização de um estudo buscando avaliar o ambiente físico das instituições, sua ocupação e percepção das crianças e adultos, utilizando como método após vistoria técnica (levantamento e documentação arquitetônica), a observação comportamental, questionários, entrevistas e desenhos-temáticos. Concluiu-se que os ambientes de educação infantil de Natal, não estão adequados podendo dificultar o desenvolvimento das crianças que demonstraram uma valorização das áreas livres e o contato com a natureza diferente dos professores mais preocupados com estética das salas de aula.

Buscando-se investigar os lugares preferidos de adolescentes e como eles estabelecem ligação de apego e desapego com lugares, Günther e colaboradores (2003) aplicaram um questionário a 562 jovens de 13 a 19 anos de três escolas públicas e quatro particulares no Distrito Federal. As questões investigadas foram: "Qual é o seu lugar preferido?" e "Qual é o lugar em que você não gosta de estar?", tendo a própria casa mais indicada como preferida, visto que, a atual geração que frequenta creches logo cedo encontra no domicílio a segurança, privacidade e controle. Os shoppings são lugares preferidos dos jovens entre quatorze e quinze anos, pertencentes a rede particular de ensino e como lugares não preferidos, bar/boate/festa foram citados por 108 jovens e a vizinhança, por alunos de escola pública, devido a insegurança e violência que apresentam. Explicando sobre a motivação para este estudo, os autores ainda afirmam que:

Para a Psicologia Ambiental estudos sobre a identidade de lugar, apego a lugar e temas relacionados como, por exemplo, efeitos restauradores do ambiente, são necessários tanto para o bem-estar psicológico dos indivíduos quanto para a preservação de ambientes e comunidades saudáveis (p. 2).

A Psicologia Ambiental não se preocupa apenas com ambientes de crianças e jovens, existem estudos como o de Maior, Zutira e Bezerra (2007), alunas de Desing de Interiores do CEFET/PB, investigaram instituições para idosos com intuito de melhorar a qualidade de vida, detectando o nível de conforto físico e emocional dos usuários, utilizando conceitos da Psicologia Ambiental. Foram utilizados questionários, observações diretas, levantamento espacial e documentação fotográfica. Os itens investigados do espaço físico foram: cores, iluminação, acústica, ventilação e distribuição de móveis, sendo criticado pelas idosas o alojamento coletivo que acarreta na pouca privacidade. Ao final do estudo, foi recomendada implantação de ambientes sociais que promovam uma maior interação das idosas com o ambiente asilar durante atividades ocupacionais em grupo e individuais, minimizando os sentimentos de abandono, carência e desconforto emocional.

Além dos estudos citados acima, a Psicologia Ambiental pode estar presente também em ambientes organizacionais, analisando o espaço físico observando a funcionalidade, eficiência e nível de satisfação dos ocupantes daquele espaço, melhorando a relação e qualidade de vida no trabalho. Porém, não foi encontrado nenhum estudo publicado sobre esta temática.

Considerações Finais

Durante o estudo foi possível perceber que muitas pesquisas não estão classificadas como sendo da área de Psicologia Ambiental, dificultando o acesso a tais documentos. Talvez, os psicólogos ambientais ainda não acreditem na grande potência que é esta disciplina e como a sua aplicação na promoção do bem estar homem-ambiente pode gerar lucros na saúde, moradia, educação, etc.. Já que a área está em fase de desenvolvimento, deveria ser divulgada, favorecendo crescimento e conhecimento por parte dos profissionais.

Muitos estudos estão sendo realizados, mas aqui no Brasil, ainda muitos são teóricos, sugestivos e não-aplicados. No site do Laboratório de Psicologia da UnB, existe um banco de dados de pesquisas realizadas por estudantes e aplicadas no campus da Universidade. Muitos demandam de tempo e disposição na escolha dos instrumentos para coleta de dados e a análise requer habilidade metodológica. Por ser a Psicologia Ambiental uma disciplina emergente, faz-se necessário o investimento em pesquisas para adquirir subsídios suficientes para aplicação de técnicas e instrumentos, visto que a atuação do profissional pode ser feita de maneira variada e em uma infinidade de ambientes.

Assim como os vários tipos de ambientes, as populações pesquisadas também são variadas. Foram encontrados muitos estudos com crianças, adolescentes e idosos, porém o psicólogo ambiental poderá auxiliar profissionais da arquitetura, engenharia e afins, na construção de ambientes apropriados para outros tipos de população como deficientes físicos, auditivos e visuais, proporcionando um intercâmbio mais saudável entre pessoa-ambiente, dando acessibilidade.

Foi observada a real possibilidade do trabalho interdisciplinar, pois homem e ambiente são interdependentes e todas as disciplinas trabalham com ou no ambiente. A maneira como se projeta um espaço deve ser pensada de forma a possibilitar a interação, respeito e consciência dos cuidados com o ambiente. Porém, como as disciplinas que tem interesse em comum não estabelecem contato com a Psicologia Ambiental, cabe ao profissional desta área criar possibilidades para concretizar o trabalho interdisciplinar.

Faz-se necessário a inclusão da Psicologia Ambiental no meio acadêmico, pois os psicólogos vão trabalhar em diversos ambientes e poderá observar que sua atuação dependerá muito das condições do espaço físico e social, esse que ao mesmo tempo em que protege também adoece. Deve ser também ensinado aos alunos da academia, a trabalhar de forma interdisciplinar, através de atividades e pesquisas interdisciplinares que venham a contribuir para a formação de profissionais mais competentes.

Fonte: Psicologia Ambiental Concepções e Métodos de Trabalho - Psicologia Ambiental - Atuação - Psicologado Artigos http://artigos.psicologado.com/atuacao/psicologia-ambiental/psicologia-ambiental-concepcoes-e-metodos-de-trabalho#ixzz1lHHMMumL