Sim, as pessoas sabem que o bullying acontece, mas é só. A solução ainda
está longe de ter sido alcançada, e isso porque envolve uma série de fatores.
Bullying em geral já é ruim, mas quando acontece com alguém por motivos
que ele ou ela consegue conversar com os pais ainda há uma saída, porque os
pais podem ir à escola e conversar com a direção e os professores e tentar
achar uma solução. Um trabalho interessante neste sentido foi feito em uma
escola em Porto Alegre e pode ser visto aqui: "CAMINHOS DA ESCOLA ESPECIAL -DESAFIO BULLYING".
No entanto, quando se trata de adolescentes LGBT o panorama muda. Muitas
vezes o/a adolescente não pode contar para os pais que sofre bullying na escola
pelo simples motivo de que ele não pode contar sobre a sua homossexualidade
para os pais. A maioria dos pais não está preparada para lidar com essa
realidade, existem inúmeros relatos de jovens LGBT que são obrigados a esconder
da família o que são e, portanto, também não podem contar com a ajuda dos pais
para tentar uma solução junto à escola. Isso leva a situações como essa
descrita em um artigo da Unesco, sobre evasão escolar:
Bullying
homofóbico colabora com evasão escolar, diz Unesco "Pesquisas
recentes, como o estudo Discriminação em razão da Orientação Sexual e da
Identidade de Gênero na Europa, do Conselho da Europa, identificaram que como
resultado do estigma e da discriminação na escola, jovens submetidos ao assédio
homofóbico são mais propensos a abandonar os estudos. Também são mais
predispostos a contemplar a automutilação, cometer suicídio e se engajar em
atividades ou comportamentos que apresentam risco à saúde."
Essa situação de isolamento total, na qual o/a jovem não pode contar com
ninguém para ajudá-lo pode levar a extremos como o suicídio e outros problemas.
Um caso ocorrido no Brasil ilustra o abandono em que se encontram jovens assim:
Mesmo quando não chega a esse ponto, há sérias consequências. Em um
estudo feito nos EUA concluiu-se que há uma tendência maior à depressão e ao
comportamento de risco e de contrair DSTs.
EUA:
Novos dados relacionambullying homofóbico na escola com o suicídio, VIH e
doenças sexualmente transmissíveis Jovens adultos LGBT
que relataram altos níveis de vitimização LGBT na escola durante a adolescência
tiveram 5,6 vezes mais probabilidade de terem tentado suicídio, 5,6 vezes mais
probabilidade de uma tentativa de suicídio que necessitaram de cuidados
médicos, 2,6 vezes mais probabilidade de relatar níveis clínicos de depressão,
e duas vezes mais probabilidade de ter sido diagnosticado com uma doença
sexualmente transmissível e de comportamentos de risco para a infecção VIH, em
comparação com os colegas que relataram baixos níveis de vitimização da escola.Homens
jovens adultos gays, bissexuais e transgéneros relataram níveis mais elevados
de vitimização LGBT na escola do que as mulheres lésbicas e bissexuais
jovens.Jovens adultos LGBT que relataram níveis mais baixos de vitimização na
escola relataram níveis mais elevados de auto-estima, satisfação de vida e
integração social em comparação com os pares com maiores níveis de vitimização
da escola durante a adolescência.
No Brasil a situação não é diferente. Conforme um estudo feito aqui:
Maioria
dos jovens brasileiros discrimina homossexuais, diz estudo Um estudo coordenado
pela pesquisadora Miriam Abramovay apontou que 45% dos alunos e 15% das alunas
não queriam ter colegas homossexuais.Conforme Miriam, esse preconceito se
traduz em insultos, violências simbólicas e violência física contra os jovens
homossexuais. Ela destaca que se trata de violência homofóbica, por parte de
toda a sociedade, inclusive de familiares, e não apenas bullying (que é a
violência entre pares). De acordo com a pesquisadora, essa violência gera
sentimentos de desvalorização e sentimentos de vulnerabilidade nos jovens
homossexuais.Diante desses fatos, a deputada Erika Kokay (PT-DF) apontou como
urgente que o governo retome o projeto Escola sem Homofobia.
Em uma entrevista feita recentemente com o deputado Jean Wyllys, ele conta um pouco sobre a sua própria experiência como
vítima de bullying na escola:
Violência
contra homossexuais tem origem na infância, diz Jean Wyllys Deputado contou sua
própria experiência durante o seminário.O deputado Jean Wyllys (Psol-RJ)
destacou há pouco que a violência contra os homossexuais, que inclui casos
diários de assassinatos, tem origem na infância. Ele participa do 9º Seminário
Nacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT),
organizado pelas comissões de Direitos Humanos e Minorias; e de Educação e
Cultura.Wyllys, que é coordenador da Frente Mista pela Cidadania LGBT na
Câmara, deu depoimento pessoal sobre sua infância em Alagoinhas, no interior da
Bahia. Ele não se identificava, a partir dos 5 anos, com “coisas de meninos”,
como futebol. “Eu gostava de fazer desenhos, brincar de roda, de cantar e de
brincar de boneca com as minhas primas. Eu gostava de coisas de menina”, disse.
Segundo ele, nessa época começou a ser chamado de apelidos ofensivos e receber outras injúrias, além de ser vítima de violência física, por parte de outras crianças e também por parte de adultos, inclusive familiares. “Essas crianças não recebem nenhuma defesa na escola, e os professores muitas vezes inclusive culpam as crianças pelas injúrias recebidas”,afirmou. “Quem mandou ter esse jeitinho?, perguntam as professoras”. Segundo ele, os efeitos do tratamento hostil nas crianças e adolescentes vão da timidez a deficiências da fala, chegando a psicoses.
Segundo ele, nessa época começou a ser chamado de apelidos ofensivos e receber outras injúrias, além de ser vítima de violência física, por parte de outras crianças e também por parte de adultos, inclusive familiares. “Essas crianças não recebem nenhuma defesa na escola, e os professores muitas vezes inclusive culpam as crianças pelas injúrias recebidas”,afirmou. “Quem mandou ter esse jeitinho?, perguntam as professoras”. Segundo ele, os efeitos do tratamento hostil nas crianças e adolescentes vão da timidez a deficiências da fala, chegando a psicoses.
A quem cabe resolver o problema? Àquele que tem o poder para isso.
Diante de tantas evidências de que o bullying de fato ocorre nas escolas, e
considerando que os pais e professores estão sem nenhum preparo para lidar com
a situação, fica muito claro que a solução precisa vir das autoridades. O Kit
Anti-Homofobia que foi vetado pela presidente Dilma é uma das coisas de que
precisamos para mudar o panorama do bullying nas escolas.
A omissão descrita por Jean Wyllys na entrevista parece ser comum. Como
se pode ver no vídeo sobre o suicídio ocorrido no Brasil, a professora também
se omitiu. Pode-se concluir que muitos professores se omitem possivelmente
porque eles mesmos são homofóbicos. Embora não cometam violência eles mesmos,
permitem que aconteça. Nas palavras do irmão do menino de 14 anos que se
suicidou: "olha aí ó, meu irmão tá apanhando aí, tem uns moleque batendo
nele aí. Aí ela [a professora] 'ah, não tenho nada a ver com isso, a
briga é de vocês' "
Quando a criança sai do ambiente da família para o ambiente maior que é
a escola, em seu processo gradual de se inserir na sociedade, ela precisa ser
protegida. Não é correto tratá-la como se fosse uma pessoa adulta, já
plenamente capaz de se defender, nem de agressões verbais, muito menos físicas.
E muitas vezes a orientação tem que vir de cima: são as autoridades que
precisam mandar um recado muito claro de que a omissão diante desse tipo de
conduta é inadmissível.
Åsa Heuser
vice-presidente da LiHS
para o Conselho LGBT da LiHS
http://www.educacao.pe.gov.br/?pag=1&cat=37&art=588
Aproveitamos o ensejo, para informar que o último documento em anexo é a Programação do Seminário Educação e Diversidade, que ocorrerá dia 13 de Setembro, no Auditório da Secretaria de Educação, Bloco A.
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